Desemprego e insegurança – por Flávio Lauria

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Professor Universitário

O desemprego afeta a muitos. A insegurança afeta a todos. Na realidade amazonense, mas sobretudo manauara, viver deixou de ser muito perigoso, como assegurava quanto aos sertões Riobaldo, o Tatarana, de Guimarães Rosa. Tornou-se lotérico. Não é preciso sair às ruas: as balas entram pelas janelas. E é impossível saber se vêm de armas de marginais ou da polícia. Também não se sabe se é mais perigoso a polícia ficar guardada na segurança dos quartéis ou sair para a insegurança das ruas. Os próprios delegados de polícia estão inseguros em suas delegacias. As rebeliões em presídios e retiros de menores fazem parte da rotina cotidiana. Chegam a bi ou tricotidianas, como no caso da Anísio Jobim. Nos anos 30 de Chicago o estardalhaço era maior. Mais pitoresco. Porém menos mortífero para o cidadão comum, a dona de casa, a professora, os alunos das escolas. Sem chegar aos níveis manauaras, há alguns anos Nova York também apresentava índices inaceitáveis de insegurança. Não pretendemos propor nenhuma reforma ou medida das inúmeras que os especialistas conhecem melhor do que nós. O que estamos enxergando é um enorme espaço político desperdiçado; o vazio da Segurança Pública. É duvidoso que um de 10, 20 ou até 30 cidadãos-eleitores da cidade saiba quem é o secretário da Segurança ou de qualquer outra alta autoridade responsável.


Portanto, aí está uma vaga que preenchida por alguém que devolva a segurança à população certamente se tornará um dos nomes mais populares da cidade, o que pode significar uma candidatura imbatível para as próximas eleições. Nesse mesmo espaço, o da segurança, existem outras vagas a serem preenchidas, com semelhante potencial de retorno eleitoral. Haverá alguém em Nova York que ignore o nome do seu chefe de polícia? Até as eleições há tempo de sobra para tomar medidas que garantam este retorno. Não será necessário investir somas fabulosas em jingles na mídia. Nem gastar com marqueteiros eleitorais. A mídia fará de graça o renome dos que devolverem a garantia de vida aos eleitores amazonenses. O que se diz a respeito da segurança pode-se repetir a propósito do problema do desemprego. Estamos fartos de assistir a programas de partidos políticos explorando o desemprego e debitando sua existência a outros políticos. Não precisamos que político nenhum nos fale do que esse problema significa. Nem o desempregado tira benefício algum de ter sua dificuldade exposta pela tevê. Não consta que paguem cachê para exibi-la. O que não vemos é ninguém fazer nada pelo emprego. Não nas dimensões que o problema exige e comporta. Recentemente o governo do Estado anunciou um programa para atacar o problema. O noticiário e as filas superaram o esforço. O governo dedicava ao problema do desemprego 0,4% de seu orçamento e a grande ideia que encontrara fora a das frentes de trabalho usadas há decênios nos Estados mais miseráveis da Federação.

Há sem dúvida um número incontável de organizações oficiais dedicadas a atacar o problema do desemprego, gastando certamente milhões e empregando dezenas ou centenas de tecnoburocratas bem remunerados. Seria muito interessante saber quantos empregos estão gerando e quanto custa a geração de cada um. Massa não inferior de repartições deve existir para auxiliar e promover a criação de médias, pequenas e microempresas. Seria muito curioso, também, conhecer seus índices de custo/benefício e as verbas que gastam em auto mordomias e autopromoção. Também aqui, no problema do emprego, há um imenso espaço vazio que não pode ser preenchido com discursos políticos nem com jingles de publicidade. Um vazio político-eleitoral formidável, capaz de eleger quantas figuras metessem a mão na massa com a criatividade que os recursos modernos proporcionam e com a seriedade e coragem que o problema exige. Mas a vontade de assumir e resolver problemas exige vocação de liderança. E ela não se fabrica mercadologicamente e pouco tem a ver com campanhas eleitorais e fúteis ambições de poder.

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