Dia dos avós – por Flávio Lauria

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Professor Universitário

Como não tenho mais a obrigação de escrever um artigo por semana já que deixei de escrever para o jornal, e para não ficar extemporâneo, faço hoje uma homenagem aos avós em seu dia. Creio que quase nenhum escrevinhador de crônicas escapa de explorar, uma vez ou outra, algum período ou episódio da sua vida privada. Acho que nada há de presunçoso nisso, pois quem está acostumado a narrar e interpretar momentos ou eventos que acontecem por aí, buscando um significado ou uma graça que possam interessar ao leitor, encontra oportunamente em sua própria vivência uma matéria-prima ou peça semiacabada que se prestam para uma redação ponderada, possivelmente atraente para quem não frequenta a sua intimidade.


Em um mundo prenhe de incompreensões, num momento particularmente difícil de um país que sofre com o caos administrativo, queremos tomar um pouco de ar puro e sair da tristeza e do desalento, falando de uma figura que inspira ternura e leva aos seus, compreensão e apoio.

Hoje comemora-se o Dia dos Avós. Apesar de ter sido alçado pela mídia publicitária à categoria de data comemorativa, para a paz dos avós e sossego dos netos, não está, ainda, cercado pelos exageros comemorativos do Dia das Mães, nem pela lei compulsória do presente. Não que lhes falte mérito, mas o papel dos avós é diferente, pois a essa altura já temos vivido bastante para compreender muito e exigir pouco em troca do amor que damos.

Ouvir um neto chamar “Vó!” Vô” soa como adorável melodia aos ouvidos, pois ele é dádiva dos céus, vinda grátis, sem sofrimento físico e sem responsabilidade de educar e reprimir. Quando a idade começa a pesar e o sentimento de ninho vazio se instala em nosso coração, os filhos não são mais as crianças brincalhonas e risonhas que conviveram conosco, mas adultos sérios e, às vezes, até frios e distantes, somos renovados com a chegada dos netos a trazer risos, brincadeiras, carinho. Voltamos no tempo. Frequentamos novamente festinhas infantis e escolares e ouvimos historinhas que parecem novidade. Acompanhamos o desenvolvimento daquele que é sangue de nosso sangue, com muito amor e interesse, mas sem a angústia do tempo da mocidade, quando tínhamos obrigação de acertar, e responsabilidade de indicar os caminhos.

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Consultor.

Aos netos, podemos fazer vontades, deixar que transponham algumas regrinhas que os pais impõem, e somos frequentemente cúmplices, o que não acontecia, nem acontece com os filhos. Como escreveu Rachel de Queirós e completamos nós, atualizando os fatos “uma noite passada na casa dos avós é uma deliciosa fuga à rotina, tem todos os encantos de uma aventura. Lá, não há linha divisória entre o proibido e o permitido com uma subversão da disciplina: dormir tarde, sem lavar as mãos, sem escovar os dentes, não tomar sopa, fazer trem com as cadeiras da sala, brincar com os enfeites, usar o celular, jogar no computador, riscar a parede e dizer que foi sem querer… e ser acreditado”. Mas, com a mudança de hábitos e a evolução da sociedade, essa gratuidade da função está sendo ameaçada e, por vezes, quase em extinção.

O esfacelamento da família em todos os níveis, com os divórcios e as separações, faz os avós serem chamados a exercer um papel ativo para preencher o lugar dos pais, de verdade. Com a crise financeira instalada, eles passam a desempenhar o papel de provedores das necessidades de filhos e netos, frequentemente com seus parcos recursos de aposentadoria, sobretudo nas classes menos favorecidas. E com a entrada da mulher, para valer, no mercado de trabalho, ela, a avó, substitui a mãe no cuidado com a ninhada, nas idas e vindas para as obrigações escolares dos pirralhos, no auxílio das tarefas, na certeza de poder contar sempre com sua ajuda. Ela pode se tornar a única fonte de carinho que o neto pode ter, sem ser acompanhada de cobranças. Dizia o poeta em frase já desgastada que ser mãe é padecer no paraíso. Ser avó é viver as doçuras do paraíso sem padecimentos. O amor dos netos compensa as perdas que o tempo traz e revigora, em nós, a fé na vida.

*Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Consultor.

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