Divergências – por Flávio Lauria

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Professor Universitário

Recebi depois dos Dia dos Pais, um e-mail de um leitor contumaz, e pede para que eu teça comentários sobre o que escreveu. Meu amigo, adoro as divergências políticas e ideológicas, mas não brigo por elas, apenas tenho o meu modo de pensar e como tenho veículo de informação que me dá essa oportunidade, assim o faço. O que você escreveu, e veja, nada contra você particularmente, mas é  mais um dos mil e um pronunciamentos do que chamo de esquerda ideológica burra, que ainda vive dos eflúvios ectoplásmicos de um marxismo de quarta lavagem, que Marx em vida pretendeu exorcizar declarando não ser marxista. Ninguém mais claramente do que Marx denunciou os oportunistas que se atrelaram a sua teoria, que nunca leram mais do que vulgatas e muito menos compreenderam que o que ele propunha não era desaboletar os burgueses de suas mamatas para colocar em suas cadeiras burocratas do partido, mas acabar com o Estado em lugar de estatizar tudo. Só que, descadeirados os burgueses capitalistas, os marxistas preferiram conservar as cadeiras e as mamatas, “socializando” toda atividade social.


O marxismo teórico transformado em comunismo prático substituiu a velha classe de parasitas burgueses e de empresários privados pelos “comissários”, a “nova classe” dos burocratas do partido, a famosa nomenklatura, que foi o mais incompetente e hediondo regime político-social da Época Contemporânea. E é isso que os intelectuais periféricos, que infestam as esquerdas dos países ditos emergentes, continuam a crer e a propagar, com a grandiloquência de discursos bravucones e quijotescos de que o artigo remetido é exemplar paradigmático, um discurso que pretende exprimir modernidade recitando chavões velhos de mais de um século. Eles continuam a encarar a estatização como meio de transferir empresas privadas para o patrimônio nacional, de propriedade e posse do povo, quando as estatais não passam de feudos privados de usufruto de uma minoria privilegiada de burocratas partidários. Um único exemplo dos inconvenientes dessa mistificação se encontra no impasse do sistema previdenciário público brasileiro. Durante todo o show da campanha eleitoral brasileira não houve candidato que levantasse a bandeira da racionalização e moralização dos gastos do Estado.

Acobertado pela voga dessa “maravilhosa festa da democracia”, que os marqueteiros encenaram e FHC coroou com sua famosa instituição do “regime de transição”, esse mesmo FHC lançou uma medida “provisória” para aumentar as mordomias de que já gozam os ex-presidentes. Ao mesmo tempo, surge no Congresso projeto de lei para dobrar os proventos de deputados. Ora dizem que Lula ganha de Bolsonaro talvez no primeiro turno nas próximas eleições.  Alguém ouviu Lula ou o PT se insurgir contra essas coisas? Dá para perceber quem pagará o pato do “pacto social” pretendido por Lula para garantir governabilidade ao seu partido? Muitos estão pensando que com Lula o Brasil possa ser um David capaz de desafiar a hegemonia universalmente exercida pelos EUA em todos os campos e não apenas no econômico. Ora, Lula não passa da versão brasileira de um Bush americano, uma espécie de “companheiro” que se crê dotado de poderes para salvar a pátria e o mundo.

Assim, caro amigo, o único a fazer é esperar para ver. Lula é um caso complicado. Pessoalmente ele é um primário, inteligentíssimo, uma mistura de pragmático e visionário, sendo impossível prever o que virá a predominar em sua personalidade em cada caso e circunstância. Como ex-operário se acha deslumbrado com o milagre democrático que o elegeu presidente e parece ultraconvencido de si próprio, como todo messias ignorante. Acha-se capaz de dirigir a economia, dizer à universidade como ela deve ser, criar um novo estilo de fazer política no Brasil e disputar uma partida de futebol com Neymar.

Parece fazer pouco de se achar solidamente espremido pela oposição majoritária, pelos extremistas do PT e demais radicais, assim como por realidades econômicas numéricas irredutíveis, que não são apenas burradas imperialistas “ditadas pelo FMI”, mas pelo endividamento brasileiro, o baixo desenvolvimento econômico da última década, e, no curto prazo, pela escassez de recursos para investimentos que o Estado arrecada e desperdiça com a classe política.

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