
Na manhã da última segunda-feira (15), o pescador José Rodrigo dos Santos foi até o porto de Neópolis (SE) pegar seu barco e tomou um susto: o rio São Francisco, de onde tira seu sustento, tinha baixado mais de um metro em apenas um dia e sua embarcação, que havia ficado boiando no dia anterior, estava encalhada em área seca, distante das águas do rio.
O cenário de inconstância de vazões, com o rio seco e cheio em períodos curtos, tem sido uma rotina na região do Baixo São Francisco —como é chamada a parte final do rio, entre Alagoas e Sergipe.
A vazão do rio no local é controlada pela Hidrelétrica de Xingó, da Chesf (Companhia Hidrelétrica do São Francisco), que regula as comportas para saída da água, atendendo à demanda do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico).
Procurado pela coluna, o ONS disse que a redução é um “cuidado” necessário (leia mais ao final do texto).
No domingo em que o barco de José Rodrigo “atolou”, segundo a ANA (Agência Nacional das Águas), a vazão média diária de Xingó caiu de 2.248 m³/s, no dia 12; para 1.087 m³/s, no domingo 14.
Especialistas afirmam que variações intensas assim prejudicam fauna e flora, além de afetar atividades econômicas —como a pesca e a navegação. Também dificultam a captação de água para abastecimento humano ou rural de comunidades que moram na região ribeirinha.

“Quando a vazão baixa, a gente tem muita dificuldade para colocar os equipamentos de pesca e fica difícil de trafegar no rio. Sem contar que colocamos a embarcação em um local, e no outro dia está em outro. A gente tem que arrastar o barco. Isso vem danificando nossas embarcações”, diz José Rodrigo.
Durante a semana, a coluna recebeu fotos e vídeos de peixes mortos e de marcas que indicam reduções bruscas da vazão dos rios, que criam pequenos lagos em regiões que antes eram rio.
Variação na prática bem maior
Além de baixa, a vazão média operada naquele domingo (assim como vários outros dias) não é constante. No mesmo dia, sofreu diversas variações e chegou a 677 m³/s às 14h. Porém, às 21h do dia anterior, foi quase três vezes maior: 1.621 m³/s.
Os dados são coletados pelo pesquisador Carlos Ribeiro Júnior, do Info São Francisco. “O valor da vazão no domingo foi no padrão da situação que o Baixo São Francisco enfrentou a partir de 2013 [período de severa seca] com as reduções de vazão permitidas pelo Ibama através das Autorizações Especiais”, diz.
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