Grandes derrotados(Por Paulo Figueiredo)

Advogado Paulo Figueiredo(AM)
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                                                         Advogado Paulo Figueiredo(AM)

Com a vitória de Rodrigo Maia, costurada nova composição política entre tucanos e democratas, Lula da Silva, o Centrão e Eduardo Cunha saem como grandes derrotados das eleições da Câmara Federal. Marcelo Castro, ex-ministro da Saúde de Dilma Rousseff e candidato do ex-presidente, amargou votação pífia, não mais do que 70 votos. E Rogério Rosso, representante do Centrão, uma inspiração de Eduardo Cunha, foi batido em segundo turno por considerável diferença de 115 votos em favor de Maia.
O ex-presidente Lula, no melhor de seu estilo, tentou o golpe. Fez com que a deputada petista Maria do Rosário desistisse do pleito e forçou o embarque do PT de mala e cuia na candidatura de Marcelo Castro. Esperava emparedar o governo Temer e ver facilitadas suas ações para vencer a votação final no Senado contra o impeachment de Dilma.


Como não lidou com amadores, quebrou a cara. Viu suas artimanhas e seu candidato serem batidos vergonhosamente. Uma derrota de consequências políticas que podem ser fatais para suas pretensões e de seu partido em 2018. Mais grave, para o lulopetismo e siglas associadas, é que Lula começa a perder a aura de vencedor e gênio, com a qual passou a apresentar-se após eleger-se presidente. Continua arrogante, basta ver como ameaça quem lhe faz oposição ou potenciais adversários nas próximas eleições presidenciais, mas logo haverá de baixar a crista, reencontrando-se nos limites de suas origi nais e reais dimensões.

Mais cedo do que se imagina, deverá retornar ao leito normal, perdedor em várias disputas, como candidato a governador de São Paulo e por três vezes a presidente da República. Lá atrás, com a Carta aos Brasileiros – obra de José Dirceu, então presidente do PT, hoje presidiário – enganou o país e elegeu-se depois de vários insucessos. Já no comando do poder federal, com o uso da máquina pública, montou esquema fantástico de aliciamento eleitoral, o bolsa família, com o qual reelegeu-se e elegeu sua pupila Dilma Rousseff. No governo, foi tocando, ainda sob os influxos da política econômica e de responsabilidade fiscal do governo FHC, mas a seguir cederia à gestão perdulária e incompetente, dando assim os primeiros passos que levariam o Brasil ao desastre econômico em que se encontra, sob administração de sua criatura e maior obra.

Lula já vinha perdendo feio. Esboroou-se a imagem de intocável que faz de si próprio, ao ser levado para depor na Polícia Federal, via mandado de condução coercitiva. Nomeado para Casa Civil de Dilma Rousseff, numa tentativa de blindagem de sua pessoa contra ações do Judiciário, não conseguiu assumir. Foi apanhado em gravações comprometedoras, usando de linguajar grosseiro, com investidas contra ministros do Supremo Tribunal Federal, reveladoras, de igual modo, do propósito de conter os procedimentos da operação Lava-Jato e de seus atores. Convicto de que o impeachment não passaria n a Câmara, terminou derrotado por margem folgada de votos. Em seguida, dava como favas contadas que barraria o processo no Senado, mas também viu seus planos seguirem por águas abaixo. Instalou-se num ‘bunker’ em hotel de luxo em Brasília e ofereceu mundos e fundos em troca da manutenção de sua afilhada no poder, sem obter nenhum sucesso. Em jantar recente, também em Brasília, na residência do senador Roberto Requião, não conseguiu reunir mais do que meia dúzia de senadores, fazendo com que perdesse as últimas esperanças de obstar a cassação da presidente faltosa e afastada.

Com a eleição de Rodrigo Maia e frente ao compromisso já firmado entre DEM e PSDB, em torno do deputado Antônio Imbassahy, como candidato a presidente da casa para o biênio 2017/18, há forte sinalização de enfraquecimento ou extinção do Centrão como grupo político de peso na Câmara Federal. De mais a mais, a liderança expressiva do movimento, ex-presidente Eduardo Cunha, vencidas as etapas do Conselho de Ética e da Comissão de Constituição e Justiça, não terá como escapar no plenário do cutelo parlamentar, passado o recesso branco do legislativo , no início de agosto. Assim, dá-se como certa a dispersão de seus membros dentre outros blocos partidários da base de apoio ao governo Temer, consolidado o processo de impeachment.

Com tudo isso, talvez tenhamos rara oportunidade de reorientar a ação do parlamento brasileiro, em sentido contrário a todos os vícios do malfadado presidencialismo de coalização, nome pomposo que esconde a sórdida política do “franciscanismo” congressual do é dando que se recebe. Ainda assim, jamais chegaremos a bom termo, alcançando o mínimo que se exige de uma democracia representativa, sem uma reforma política de fundo, que consiga castrar essa enxurrada imoral de partidos de balcão, que inviabiliza qualquer projeto sério de articulação parlamentar em nome de proposta s que possam traduzir os mais legítimos anseios da nacionalidade.(Paulo Figueiredo é Advogado, Escritor e Comentarista Político –  [email protected])

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