
A comunidade quilombola São Francisco do Bauana, localizada entre o município de Alvarães (a 531 km de Manaus) e o entorno da Floresta Nacional (Flona) de Tefé, no interior do Amazonas, recebe mais de 300 jovens, parceiros e lideranças no Encontro das Juventudes, Povos e Comunidades Tradicionais. O evento, que vai até sábado (28/6), promove debates sobre meio ambiente, mudanças climáticas, territórios tradicionais e outras pautas essenciais.
Ao fim do encontro, será produzido um documento com as principais demandas da juventude amazônida, que vai ser apresentado durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), marcada para novembro, em Belém (PA).

A escolha do local tem significado profundo: a região foi duramente impactada pela severa estiagem que atingiu o Amazonas entre 2023 e 2024, e representa a realidade de muitos territórios que enfrentam os efeitos da crise climática. Além disso, uma das principais lideranças do encontro nasceu ali: Dione Torquato, secretário-executivo do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS).
Filho e neto de seringueiros, Dione cresceu na comunidade do Caru, dentro da Flona de Tefé, ouvindo histórias sobre a luta de Chico Mendes. Desde cedo, decidiu seguir o mesmo caminho. A infância, no entanto, foi marcada por desafios. Para estudar, caminhava mais de uma hora e meia até uma escola improvisada de madeira, onde aprendia deitado no chão e a professora escrevia com carvão num quadro improvisado. Aos sete anos, quase perdeu a vida por causa de uma doença comum na região. Com 13, mudou-se para a cidade para estudar, mas teve que interromper os estudos por falta de condições financeiras. Voltou ao interior, ajudou a cuidar dos irmãos e, aos 18, teve sua primeira filha.

Apesar das dificuldades, nunca deixou de lado suas origens extrativistas, nem o compromisso com a luta social. Hoje, Dione segue viajando todos os anos para a Flona de Tefé e Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre, para participar de mobilizações e apoiar na colheita de produtos da sociobiodiversidade como açaí e castanha.
“Conhecer o legado de Chico Mendes foi essencial para eu me reconhecer como jovem que podia lutar por educação, saúde, trabalho e direitos para minha comunidade. Depois percebi que não estava sozinho, e que a luta coletiva é o que move a transformação”, afirma.
Dione também contribuiu com políticas públicas voltadas aos jovens e ao meio ambiente. Participou da criação do Estatuto da Juventude, do Plano Nacional de Juventude e Sucessão Rural e da atualização do Plano Nacional de Juventude e Meio Ambiente (PNJMA). Foi ainda membro do Conselho Nacional da Juventude (CONJUVE).

“Alguns se desanimam por acharem que são inexperientes. Outros desistem pelas dificuldades da região amazônica. Mas precisamos seguir. O futuro do planeta depende da participação ativa dos jovens”, reforça Dione.
O Encontro das Juventudes tem como foco fortalecer a importância dos Territórios Tradicionais de Uso Coletivo (TUCs) como espaços fundamentais para a garantia de direitos e o enfrentamento da crise climática.
A iniciativa é realizada pelo CNS, Memorial Chico Mendes (MCM), Jovens Protagonistas (JP) e Associação dos Moradores e Produtores Agroextrativistas da Flona de Tefé e Entorno (APAFE), com apoio do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), SOS Amazônia, Instituto Clima e Sociedade (ICS), Fundação Amazônia Sustentável (FAS), Rainforest Noruega (RFN), Cooperação Técnica Alemã (GIZ), ICMBio, Prefeitura de Alvarães, Câmara de Vereadores de Alvarães, CONAQ-AM, grupo Mulheres Protagonistas da Flona Tefé, quilombo São Francisco do Bauana e outras organizações locais.