O site The Intercept publicou no sábado (29) novos trechos de mensagens privadas atribuídas a procuradores do Ministério Público Federal.
Nelas, grupos com integrantes da Lava Jato criticaram Sergio Moro, hoje ministro da Justiça, por decidir integrar o governo Jair Bolsonaro e demonstraram preocupação com os impactos dessa aproximação para a Lava Jato.
Segundo a reportagem, em diálogo de 31 de outubro de 2018, após a eleição de Bolsonaro e véspera do anúncio de que Moro seria ministro da Justiça, procuradores demonstraram preocupação com a imagem da Lava Jato, segundo diálogo veiculado pelo site.
A procuradora Isabel Groba, da força-tarefa em Curitiba, escreveu: “É o fim ir se encontrar com Bolsonaro e semana que vem ir interrogar o Lula”. Em seguida, a procuradora Laura Tessler respondeu: “Pelo amor de Deus!!!! Alguém fala pro Moro não ir encontrar Bolsonaro!!!”
Pelo Twitter, Moro respondeu: “A matéria do site, se fosse verdadeira, não passaria de supostas fofocas de procuradores, a maioria de fora da Lava Jato. Houve trocas de nomes e datas pelo próprio site que as publicou. (…) Isso só reforça que as mensagens não são autênticas e que são passíveis de adulteração.
O que se tem é um balão vazio, cheio de nada. Até quando a honra e a privacidade de agentes da lei vão ser violadas com o propósito de anular condenações e impedir investigações contra corrupção?”
No início de junho, o The Intercept começou a publicar reportagens baseadas nas supostas trocas de mensagens. Segundo o site, os diálogos mostrariam que Sérgio Moro trabalhou em conjunto com os investigadores – em alguns casos, para prejudicar investigados e réus da Lava Jato, algo que Moro e os procuradores negam.
Na época das conversas, Moro era o responsável por julgar os casos da operação na 1ª Instância da Justiça em Curitiba (PR), onde a investigação começou.
A BBC News Brasil não conseguiu confirmar de maneira independente a veracidade das mensagens reproduzidas pelo The Intercept, mas a série de reportagens tem movimentado autoridades e políticos desde que começou a ser publicada.
As críticas
Ainda no diálogo dos procuradores sobre Moro, segundo o site, outro procurador da operação, Antônio Carlos Welter, disse que, como ministro, Moro teria que “explicar todos os arroubos do presidente” e “engolir muito sapo”, além de ser criticado e “confirmar para muitos a teoria da conspiração”. Welter diz que o convite poderia representar um reconhecimento que avaliou como “merecido”, mas ponderou que significaria “para muita gente boa e imparcial (…) uma virada de mesa, de postura, incompatível com a de Juiz”.
No mesmo dia, em outro grupo, a procuradora da República Janice Ascari escreveu, segundo o site: “Moro se perdeu na vaidade. Que pena”. O procurador João Carlos de Carvalho Rocha respondeu: “Ele se perdeu e pode levar a Lava Jato junto.”
Em outro diálogo, a procuradora Monique Cheker escreveu: “Moro ajudou a derrubar a esquerda, sua esposa fez propaganda para Bolsonaro e ele agora assume um cargo político. Não podemos olhar isso e achar natural.”
Em nota enviada ao Antagonista, Cheker diz “não reconheço os registros remetidos pelo The Intercept, com menção a minha pessoa, mas posso assegurar que possui dados errados e alterações de conteúdo”. Ela afirma que um dos diálogos atribuídos a ela pelo Intercept – “Desde que eu estava no Paraná, em 2008, ele (Sergio Moro) já atuava assim” – está equivocado, uma vez que “durante praticamente todo o ano de 2008 eu trabalhei como procuradora de contas do Ministério Publico junto ao TCE do Rio de Janeiro, cargo que assumi em 2006. Nunca tinha ouvido falar do ex-juiz Sergio Moro, muito menos tive contato com alguém do MPF/PR”.
Segundo o The Intercept, Cheker disse à reportagem que “não tem registro da mensagem enviada e, portanto, não reconhece a suposta manifestação”.
O site O Antagonista publicou que, inicialmente, a reportagem do The Intercept atribuía trecho de conversa ao procurador Angelo Goulart Villela, preso em 2017 – e que, depois, o nome foi corrigido para Angelo Augusto Costa.
A reportagem do The Intercept traz uma nota de correção, que informa que, por um “erro de formatação”, houve uma mudança na data. “Marcamos uma conversa do grupo BD como se ele tivesse ocorrido em 1º de novembro de 2019, quando, na verdade, era 1º de novembro de 2018. Isso já foi corrigido.”
BBC