
Mulheres de comunidades ribeirinhas do interior do Amazonas terão acesso ao exame preventivo mais moderno e eficaz no diagnóstico de inflamações pré-cancerosas e do câncer de colo de útero na sua fase inicial.
Com maior precisão que o papanicolaou convencional, a citologia em meio líquido será oferecida no barco do Programa de Atendimento Itinerante (PAI) “Todos pela Vida”, que inicia atendimentos pela calha do rio Juruá, reforçando o combate ao câncer de colo de útero, o mais frequente e o que mais mata as mulheres amazonenses.
Reformado com financiamento do Fundo de Promoção Social (FPS), o barco “Todos pela Vida” integra o programa da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (Sejusc). Além dele, outras duas embarcações estão recebendo investimentos de R$ 7 milhões para recuperação e equipagem.

A embarcação leva serviços de cidadania e saúde à população das comunidades mais isoladas do Estado e entra em funcionamento com uma série de serviços pelos municípios da calha do Juruá. Além do novo método preventivo, o barco também vai ajudar no combate à proliferação da malária com a entrega de mosquiteiros e atender pessoas com deficiência com cadeiras de roda, muletas e kits dormitórios (cama, colchão e ventilador).
A adoção do novo método de exame preventivo para identificar lesões pré-cancerosas no colo do útero coloca o Estado em posição de destaque no cenário nacional de saúde. Apesar de criado há mais de duas décadas e de sua alta eficácia, o método de citologia em meio líquido é pouco empregado na rede pública de saúde do país por ser mais caro que o papanicolaou convencional. Somente o Pará oferece o exame.
A coleta de amostras no colo uterino para o exame acontece da mesma forma que no papanicolaou. A mudança é no processamento. Com o método da citologia em meio líquido, o material colhido é processado em um aparelho que separa as células de mucos vaginais e sangue. Essa seleção aumenta as possibilidades de acerto na pesquisa de lesões no colo do útero.
“Com esse tipo de preventivo, os chamados artefatos, que são sangue e outras secreções, tão comuns no exame, são eliminados. Esses artefatos causam exames falso-negativos ou insatisfatórios. Com a citologia em meio líquido, 100% das células são aproveitadas para o exame ao contrário do papanicolaou convencional, que só apresenta 20% dessas células”, explica a ginecologista Mônica Bandeira, especialista em câncer de colo uterino da Fundação Centro de Controle de Oncologia do Amazonas (FCecon).
Enquanto o papanicolaou tem algo em torno de 50% de precisão, a citologia em meio líquido apresenta, em média, 80% de sensibilidade. “A coleta é feita da mesma forma, não há diferença para a mulher. A mudança é a alta tecnológica. A citologia em meio líquido é um exame de melhor qualidade usado no mundo inteiro há mais de 20 anos, em laboratórios particulares, através de convênios, mas não disponibilizam no SUS. Seremos o segundo Estado do país a oferecê-lo, uma decisão histórica”, enfatizou a médica.
Imunização contra o HPV
A melhora nos métodos de rastreio é uma ferramenta fundamental para prevenir o câncer no colo uterino. O Estado implantou de forma pioneira a imunização de meninas contra o HPV, vírus causador da doença. Este ano, a vacina será oferecida aos meninos, imunizando mais de 80 mil crianças e adolescentes. “Esse exame representa melhoria do rastreio do câncer de colo do útero, alcançando exatamente as mulheres que tem mais obstáculos e dificuldades em realizar o seu preventivo”, acrescentou Mônica Bandeira.
Os exames realizados durante os atendimentos do barco PAI ‘Todos pela Vida’ serão encaminhados à Manaus para laudo. Nos casos em que houver alteração, a Secretaria de Estado de Saúde (Susam) vai providenciar o tratamento imediato, afirmou a secretária de saúde, Mercedes Gomes.