
“Somos a primeira marca que sai da comunidade do Carão. Eu quero que a marca seja referência da região amazônica”. É dessa forma que a empreendedora Regina Ramos, uma mulher cabocla ribeirinha, fala da Sapopema Biojoias, um negócio inovador que utiliza matéria-prima da floresta para fabricação de itens acessórios de moda sustentável, garantindo geração de renda para seu território, principalmente para mulheres artesãs, e contribuindo para a proteção da Amazônia.
A Sapopema atua na comunidade ribeirinha do Carão, localizada no município de Iranduba (a 27 quilômetros da capital amazonense) – Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Rio Negro, na Região Metropolitana de Manaus.
A ideia nasceu em 2017. Na época, Regina sofria com síndrome do pânico e ansiedade generalizada, além de ser mãe solo, enquanto o artesanato ajudava como terapia ocupacional. Ali, ela enxergou a oportunidade de iniciar o próprio negócio: a Sapopema.

“As pessoas [amigos, vizinhos] foram querendo comprar as peças, porque eram diferentes. Isso começou a ser minha fonte de renda”, explica a fundadora, designer e CEO do negócio.
Desde então, a empresa passou a fabricar colares, brincos, pulseiras e outros itens de moda sustentável, duráveis e que representam a essência do ribeirinho e do caboclo. Tudo isso a partir de elementos da floresta, como sementes, fibras naturais, frutos secos e outros elementos, que são extraídos de forma sustentável e sem qualquer agressão ao meio ambiente.
Segundo ela, os primeiros momentos foram desafiadores. Mesmo com um variado catálogo de produtos, Regina não tinha sucesso na hora de fidelizar clientes e não conseguia fazer muitas vendas.
Isso não é um cenário isolado, pelo contrário, muitos empreendimentos enfrentam essa realidade. O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) aponta que 56,56% das startups brasileiras não possuem faturamento, o que resulta em uma falência precoce logo nos primeiros anos de operação. Há várias razões para isso, mas especialistas apontam que falta equilíbrio entre o produto/serviço oferecido e a demanda do mercado.
Em um determinado momento, Regina cogitou encerrar as atividades da Sapopema e fazer da fabricação de biojoias apenas uma renda extra ou somente uma terapia ocupacional. Mas o aceite recebido pela primeira Chamada de Negócios do “Lab de Impacto”, coordenado pelo Impact Hub, mudou tudo.

“Havia muitas portas fechadas enquanto biojoias. Queria migrar para um outro negócio que me desse mais autonomia, queria investir em turismo. Foi quando me inscrevi para o ‘Lab de Impacto’, porque queria migrar para este novo negócio. Quando me fizeram a proposta de continuar a Sapopema, eu fiquei um pouco receosa, mas fiz. Passei a investir mais em marketing, em estratégias de negócio e no processo de reconhecimento da marca. Ainda não terminou, estamos trabalhando nestes pontos”, enfatiza Regina
No decorrer de quatro meses, no Lab de Impacto, a Sapopema foi contemplada com formações especializadas, mentorias, conexões estratégicas com outros atores do mercado e um capital semente de R$ 30 mil para alavancar os resultados.
Ao longo da formação, a empreendedora da floresta viu as oportunidades, antes sem possibilidade, começaram a se abrir. Atualmente, o negócio possui mais de três mil seguidores no Instagram, exporta seus produtos para todo o Brasil e oportuniza renda para outras mulheres artesãs da comunidade. Além disso, o negócio já teve suas peças expostas em feiras e eventos nacionais e internacionais, conquistando quem acredita e valoriza os produtos da floresta.

“O valor da Sapopema está na essência originária que cada peça de moda carrega. Eu quero que seja uma marca referência da região amazônica. Meu foco principal é fazer com que seja a voz do Norte através da biojoia, a voz do ribeirinho através da biojoia”, finaliza Regina.
Mais sobre o Lab de Impacto
O Lab de Impacto é um programa de aceleração coordenado pelo Impact Hub Manaus. A iniciativa apoia negócios de impacto socioambiental nos nove estados da Amazônia Legal, oferecendo formação especializada, mentorias, conexões estratégicas e capital semente que varia entre R$ 30 mil e R$ 100 mil.
Ao longo de três edições, o programa recebeu 319 inscrições de negócios em fase de Piloto ou MVP (Minimum Viable Product). Atualmente, mais de 20 iniciativas seguem ativas com apoio do Lab, atuando em setores como alimentação, piscicultura, gestão de resíduos, turismo e moda sustentável.
O Lab de Impacto é uma realização do Impact Hub Manaus, em parceria com a Bemol, Singulari Consultoria e Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA).