Neuza Borges reedita a velha gritaria contra o racismo na TV

Atriz Neuza Borges, em Salve Jorge, há dois anos/Foto:João Miguel
Atriz Neuza Borges, em Salve Jorge, há dois anos/Foto:João Miguel
Atriz Neuza Borges, em Salve Jorge, há dois anos/Foto:João Miguel

Mesmo quando está afastada da teledramaturgia, Neuza Borges ressurge na TV de tempos em tempos. Geralmente sob manchetes polêmicas ou sensacionalistas. Aconteceu de novo.

Desta vez ela ganhou destaque no Tá na Tela, programa apresentado por Luiz Bacci nas tardes da Band. A repórter Silvana Kieling viajou até Salvador para entrevistar a atriz, de 73 anos.


Desiludida com a falta de trabalho na TV, Neuza se mudou do Rio para a capital baiana. Com a indenização recebida de uma escola de samba carioca, por ter despencado de um carro alegórico em 2003, comprou um apartamento na cidade e montou um brechó.

Aparentemente, ela vive uma condição de classe média. Porém, pelo que mostrou a matéria, está revoltada com a falta de oportunidades no meio televisivo.

“Eu ainda não morri. Se quiserem me enterrar viva, podem enterrar. Enterrem. Mas nunca vou deixar de ser a Neuza Borges com 60 anos de carreira”, disse, sem disfarçar a amargura.

A última aparição de Neuza Borges na Globo, onde trabalhou por quatro décadas, foi em 2012, na novela Salve Jorge. A autora Gloria Perez, que sempre escalou a atriz em suas tramas, reeditou a personagem Diva, vista anteriormente em América, de 2005.

Enquanto a emissora prepara para o dia 16 a estreia de Sexo e as Negas, série protagonizada por quatro negras, a veterana atriz reafirma que a TV ainda é um ambiente racista.

“Um programa de televisão que tem 40 atores trabalhando, por que tem só dois negros?”, questionou na matéria do Tá na Tela. “Por que plateias de programa de televisão tem modelos loiras, lindas, e só dez negrinhas?”

Tentando não se vitimizar com as próprias palavras, ela fez questão de ressaltar sua autoestima: “Ninguém ama minha cor como eu. Sempre digo: nasci preta, vivo como preta, vou morrer preta. Não sofro da cor”.

A polêmica suscitada por Sexo e as Negas, que antes da estreia já enfrenta denúncias de racismo e sexismo, e o desabafo em tom de protesto de Neuza Borges, reforçam o que é óbvio: o Brasil é um país mal resolvido em relação à sua miscigenação.

Essa mistura de etnias é elogiada como símbolo de fraternidade e exemplo de sociedade igualitária. Balela. O racismo existe e sempre existirá. Assim como o antissemitismo, a islamofobia e outras manifestações do gênero.

Esse conflito denunciado por atores negros encontra seu maior reflexo na TV, a mais poderosa vitrine da sociedade midiática. Quando uma novela não tem personagens negros surgem denúncias de racismo contra o canal, o autor, os diretores.

Mas no momento em que uma produção é montada justamente com o objetivo de aumentar a visibilidade de artistas afrodescendentes, como no caso de Sexo e as Negas, criada por Miguel Falabella, emergem vozes raivosas — inclusive de setores do movimento negro — contra a iniciativa.

Sem fazer juízo de valor da série, lanço uma questão: não é melhor ter um programa com muitos atores negros, ainda que as entrelinhas da trama desagradem a alguns, do que não tê-lo? Não é mais proveitoso fazer desta atração uma discussão social, ao invés de agitar uma campanha para boicotá-la?

Ainda sobre Neuza Borges: ela reclama, chora, acusa. Mas sempre volta à TV. Sua denúncia de racismo é válida, mas se tornou repetitiva. Faz-se necessário não focar apenas as fontes de preconceito, e sim apresentar propostas para enfrentá-las. Na TV e na vida real.(Terra/Sala de TV)

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