
Oito em cada dez pessoas serão infectadas pelo HPV (papilomavírus humano) ao longo da vida. Na maioria dos casos, o vírus é eliminado espontaneamente pelo sistema imunológico. No entanto, ele pode causar alterações celulares que evoluem, ao longo dos anos, para diversos tipos de câncer — principalmente no colo do útero, mas também na vagina, vulva, ânus, pênis, orofaringe e boca.
Do Papanicolau ao Teste de DNA-HPV
Desde os anos 1980, o principal exame de rastreamento do câncer de colo do útero no Brasil era o Papanicolau. Agora, será substituído pelo teste de DNA-HPV, que consegue identificar o risco de tumor com até dez anos de antecedência.
O câncer de colo do útero representa 93% dos tumores causados pelo HPV. Segundo o INCA, é o terceiro mais comum entre mulheres, com cerca de 6,5 mil mortes por ano — uma a cada 90 minutos.
O Papanicolau é indicado para mulheres de 25 a 64 anos com vida sexual ativa. O exame colhe células do colo uterino para detectar alterações causadas pelo HPV. Após dois exames consecutivos normais, ele passa a ser feito a cada três anos. Apesar de eficaz, pode não identificar lesões precoces ou o câncer já instalado.
Mais Precisão e Antecipação no Diagnóstico
O novo teste de DNA-HPV tem maior sensibilidade e detecta a presença do vírus antes mesmo de surgirem lesões. Pode ser feito no consultório ou por autocoleta, com um kit enviado à paciente — opção mais acessível e confortável.
Um estudo com mais de 20 mil mulheres, realizado pela Unicamp, Prefeitura de Indaiatuba e Roche Diagnóstica, mostrou que o novo teste quadruplica a detecção de lesões pré-cancerígenas. Foram identificados 21 casos de câncer de colo do útero, 67% deles em estágio inicial. Com o Papanicolau, apenas 12 casos foram detectados — e 11 já estavam avançados.
Além disso, o DNA-HPV antecipa o diagnóstico em cerca de dez anos: a média de idade para detecção cai de 49,3 para 39,6 anos.
“O novo teste detecta precocemente 80% dos cânceres silenciosos e permite tratamento menos agressivo, com maiores chances de cura”, afirma o dr. Júlio César Teixeira, diretor de oncologia do CAISM-Unicamp.
Se o teste for positivo, a paciente é acompanhada com mais frequência. Caso apresente lesão, é encaminhada para tratamento antes da progressão para o câncer.
Impacto no SUS e Economia
O exame pode ser feito a cada cinco anos, em vez de três, como o Papanicolau. Estima-se uma economia de até 215 reais por ano de vida para o sistema de saúde.
A OMS recomenda o teste de DNA-HPV desde 2013 para novos programas de rastreamento. Após os resultados do estudo de Indaiatuba, o Ministério da Saúde iniciou a substituição oficial.
Em março de 2024, o teste foi aprovado pela Conitec e, em fevereiro de 2025, as novas Diretrizes Diagnósticas e Terapêuticas foram publicadas. O SUS agora tem até agosto de 2025 para implementar o exame como método principal de rastreamento do câncer de colo do útero.
Fonte: Uol