
Dia desses ouvi uma pregação do padre Fabio de Melo dizendo que a esperança cresce como árvore, em silêncio.
Dizia ele que uma árvore quando cai faz muito barulho e todos prestam atenção, sem perceber que, enquanto isso, toda a floresta cresce em silêncio e desapercebida.
Navego agora pelos rios que me levam de Caapiranga a Manacapuru, envolto de uma paisagem deslumbrante e de uma floresta que, se cresce em silêncio, produz os sons dos pássaros que lhe habitam, dos ventos que lhe afagam e das águas que lhe abraçam.
Há homens e mulheres por aqui, gente muito simples, gente que carrega suas esperanças e seus sonhos como o silêncio das florestas, mas que nem sempre são capazes de gritar as suas dores como as árvores que caem.

É preciso ouvir. Para contemplar plenamente a floresta é preciso ser capaz de ouvir os sons das árvores que caem e também o silêncio da floresta que que nasce e renasce. Para conhecer e amar o homem é preciso humildade para ouvir os sons das suas dores e os silêncios das suas esperanças.
Aqui, dentro do barco que navego por esse mundo de água, pássaros e ventos, cada olhar carrega uma vida, cada vida carrega suas dores, suas alegrias e seus destinos.
Que Deus possa manter no coração da nossa gente simples do interior o silêncio da esperança como alimento para combater o ensurdecedor barulho da fome, da miséria e da injustiça.
Marcelo Ramos