Paradoxos

Luiz Lauschner Escritor e empresário

Assistindo a entrevista do senador Delcídio do Amaral no programa Roda Viva, me pus a pensar: Nos últimos anos temos visto figuras com currículos invejáveis, capazes de estimular qualquer jovem a estudar e a se empenhar para “ser alguém na vida”. Sim, até que esbarramos na parte ética. Então tudo desmorona. Diretores da Petrobras com formação técnica sólida, experiência de vida no Brasil e no exterior, com capacidade para dirigir até mesmo uma nação, se deixam levar pela cobiça e em pouco tempo não conseguem mais distinguir o ético do não ético, o certo do errado, o bem do mal.


Muitas vezes vemos nos programas sensacionalistas de televisão jovens sendo apresentados como matadores, traficantes ou ladrões. O telespectador tem sentimentos contraditórios quando assiste a isso. Por um lado, uma grande vontade de estrangular ao assaltante que mata, ao estuprador que viola a intimidade e acaba com o amor próprio da vítima, por outro a constatação de que são pessoas que nasceram e se criaram em ambiente que não conhece as regalias de pessoas com um mínimo de conforto. O direito à moradia, à alimentação e ao ensino é servido às migalhas aos que ocupam as periferias. Aprendem desde cedo que é preciso lutar (e por luta entenda-se a forma violenta de conquistar espaços) para não sucumbir. A lei da sobrevivência fala mais alto que qualquer código legal escrito pelos doutores. Quando são apanhados em flagrante delito, são jogados nas piores celas onde aguardam, às vezes por anos, por uma sentença definitiva.

Quando nos deparamos com um policial fazendo aquilo que deveria impedir aos outros de fazer, um governante roubando descaradamente ou permitindo o roubo do dinheiro que deveria proteger, um professor desencaminhando um jovem que deveria educar ou comunicador desinformando sabemos que estamos diante da inversão de valores muito odiosa. Só é pior quando as distorções acontecem dentro de casa da família que é a base para qualquer cidadão.

Que oportunidades faltaram na vida dos criminosos de colarinho branco? Na verdade, quando uma pessoa com todos os conhecimentos legais e em boa situação financeira comete um deslize, sua condição cai para bem mais baixo que a daqueles que nunca tiveram a chance de serem bem sucedidos fora do crime. Contudo, uns terão direito à cela especial, quando não ao foro especial enquanto outros amargam as piores condições dos presídios. Com exceção daqueles que são pegos e presos, a maioria não esconde o rosto como os criminosos comuns, mas levantam o punho em sinal de desprezo pela lei que os pune. Pior do que isso, só quando foram eles mesmos que ajudaram a elaborar essas leis.

Devagar, muito devagar o Brasil está começando a não tolerar mais nenhum tipo de criminoso. Começam a entender que a condição do menos favorecido está diretamente ligada aos desvios criminosos que são feitos lá em cima. Embora ainda existam aqueles que, por terem eleito esse ou aquele governante, o defendam até quando não há mais defesa, o grosso da sociedade quer tratamento igual para grandes e pequenos. O pobre, que mal tem acesso à sobrevivência em condições extremas, também não tem acesso a bons advogados como os ricos que procrastinam a aplicação dos seus castigos até o túmulo.

É uma pena que pessoas de tão boa formação sirvam de exemplo negativo. De tantas coisas desperdiçadas em nosso país, a educação dada a esses senhores talvez seja a pior delas.

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