Pesadelo – por Flávio Lauria

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Professor Universitário

Escrever sobre o que o Coronavirus já causou no mundo e no nosso país é difícil, até mesmo aos especialistas. É que os fatos se entrelaçam, causas e consequências se confundem. Seja no campo da desinformação, seja nos desencontros e contrassensos; na desordem administrativa. Não bastasse tudo isso, vem a crise econômica. Depois disso, nunca mais o Brasil será o mesmo! Aliás, não há outra reflexão diante da atual realidade.


Quando a realidade supera a ficção não há como fugir da sensação de angústia. Angústia indefinível, informe, sem limites. Um pesadelo que padecemos de olhos abertos, impondo-nos silêncio, privando-nos da capacidade de raciocinar, de entender o que estamos vendo e sentindo. E se mostra de tal forma envolvente e invasora que, como num passe de mágica, já não mais somos meros espectadores, mas sim personagens e vítimas da tragédia que as imagens instantâneas de televisão põem diante de nossos olhos.

Em vários momentos do trágico desfile dos fatos que estão em curso – ao vivo e em cores –, deles tentamos tomar distância, mas o esforço fracassa. É a força do inusitado, é a atração do surpreendente, do horror mesmo, que nos detém. E nosso sofrimento se alonga. Esfria-nos o corpo, sufoca-nos, emudece-nos. É assim que me sinto ainda agora, ao tentar juntar as palavras para compor esta coluna, dividindo o olhar entre o teclado do computador e as imagens da TV.

São 8 horas desta quinta feira 19 de Março de 2020, meu prazo para entregar estas linhas está terminando e minhas dificuldades para pô-las no papel se agravam mais e mais. Em vão tento comparar o que aconteceu e segue acontecendo no mundo com o que de mais surpreendente, trágico e emblemático ocorreu na história dos povos ao longo de todos os tempos. Nenhum paralelo me ocorre. Porque o episódio a que estou assistindo, e do qual em verdade sou partícipe, me atordoa, me comove, me revolta e me faz temer pelas consequências que ele poderá ter para a humanidade neste mundo ao mesmo tempo tão mais dividido quanto mais globalizado se diz ele ser.

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Consultor.

Mas o pior de tudo, é que o Presidente da Republica do Brasil, em ato inconsequente e de quem não tem o juízo perfeito, acha que é uma histeria a pandemia já propagada pela Organização Mundial de Saúde. Quando se vê tornadas sombrias também as expectativas de analistas e jornalistas. Onda de instabilidade, aprofundamento da recessão, inevitabilidade de uma crise mundial muito mais profunda e duradoura, o fim da esperança de recuperação, perdas incalculáveis para a economia planetária são algumas das previsões que puderam ser lidas na mídia nacional e internacional nos últimos dias. E o nosso presidente, desdenhando do vírus.

Perguntaram certa vez a um sábio árabe como ele entendia o ser humano. Ele respondeu sem meias palavras: é um ser animal que se constitui de cinco elementos, a vaidade, o egoísmo, o desamor, a ambição e a falta de moral. Se disse tudo não sei. Porém algumas formas da afirmação existem, na exaltação do ego, na busca do dinheiro, na falta de solidariedade, no sentimento da própria eternidade. Traduz o que é o nosso atual mandatário.

Resumindo e encerrando, rogo aos leitores que me perdoem pelo que disse até aqui. Procurem compreender meu estado de confusão mental e emocional. No momento, estou sem saber controlar o pânico que me domina e sem poder prever o que poderá vir a acontecer a partir deste trágico e definitivamente histórico ano de 2020.

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