Práticas que contribuem para a felicidade no trabalho, que as empresas podem e devem adotar

Heide Castro é psicóloga, Practitioner em Investigação Apreciativa pela Case Western Reserve

Por Heide Castro


Você é feliz no seu trabalho? O que te motiva a sair da cama todos os dias? A felicidade no trabalho parece ser algo inatingível em sua plenitude, embora, em algumas empresas, já existam profissionais responsáveis pela gestão do bem-estar e felicidade dos colaboradores, o Chief Hapiness Officer (CHO). Mas será que isso basta?

A felicidade no trabalho está diretamente relacionada à saúde mental, produtividade e retenção de funcionários – tema, aliás, que é preocupação mundial e foi bastante discutido esse ano em congressos internacionais como Retail Big Show (da NRF), em Nova York; e Euroshop, na Alemanha. Em um mundo onde a insegurança emocional só aumenta e doenças mentais, como burnout, ansiedade e depressão se fazem presentes em praticamente todas as organizações, proporcionar um ambiente saudável e propício para promover relações de qualidade entre as pessoas pode ser um fator crucial para a satisfação e bem-estar dos funcionários. E essa é uma demanda mais que urgente, conforme mostram os dados da pesquisa “Estado de Felicidade no Trabalho”, conduzida pela rede dinamarquesa Woohoo Unlimited Partnership“ e aplicada em 38 países, incluindo Portugal: cerca de 71% dos participantes afirmaram estar felizes em relação à vida, mas apenas 46% estão satisfeitos com o trabalho. Para além disso, mais de 50% dos entrevistados apontaram que o trabalho figura como pano de fundo para o estado de tédio e esvaziamento de sentido de vida. Os resultados mostram um panorama de diversos países e essa tendência vale para o Brasil.

A psicologia positiva, uma das ciências de sustentação do conceito de felicidade, mostra que o principal atributo para o sentimento e felicidade é a autorrealização.  Estar realizado vai além de gostar do trabalho, mas ver significado no seu dia a dia e se sentir bem em suas relações profissionais, a partir de uma agenda focada nas relações positivas. Mas como a empresa consegue identificar uma forma de proporcionar a felicidade, algo tão pessoal, em um ambiente corporativo, onde cada profissional tem anseios e propósitos diferentes?

Uma das abordagens que contribuem para esse olhar mais personalizado é a Investigação Apreciativa, que se concentra nas forças e nos sucessos e busca identificar e amplificar o que é positivo na organização, em vez de se concentrar nos problemas e nas deficiências. Isso permite que as equipes identifiquem e repliquem as práticas que contribuem para um ambiente de trabalho positivo.

 O que é e como se aplica a Investigação Apreciativa?

De acordo com o livro “The power of Appreciative Inquiry”, os autores Cooperrider e Srivastva (2001) definem a Investigação Apreciativa como uma abordagem que se concentra nas coisas boas e nas coisas que funcionam bem em uma organização, argumentando que pode ser usada para aumentar a capacidade de adaptação e mudança em uma organização, além de melhorar a cultura e o clima organizacional.  Outros autores apontam que a investigação apreciativa pode ser usada para identificar as práticas e características que contribuem para a felicidade dos funcionários, como o apoio do líder, a colaboração entre equipes e a sensação de propósito.

A Investigação Apreciativa pode ser aplicada de várias maneiras, incluindo entrevistas, grupos focais e pesquisas e, a partir dessas descobertas, as equipes podem trabalhar juntas para implantar mudanças que amplifiquem essas características positivas.  Outras ferramentas, como a análise de fluxo e a investigação baseada em valores podem ser usadas em conjunto com a Investigação Apreciativa para complementar e amplificar seus benefícios.

A chave para o sucesso na implantação da Investigação Apreciativa é envolver todas as partes interessadas, especialmente as lideranças, e estabelecer um ambiente positivo e colaborativo. Ao fazer isso, as organizações podem experimentar benefícios significativos, como aumento da felicidade e satisfação dos funcionários, melhoria da qualidade e produtividade, e maior colaboração e inovação. Esses resultados são revelados em diversas pesquisas, como a feita pela “Harvard Business Review”, mostrando que colaboradores felizes são 31% mais produtivos, 85% mais eficientes e 300% mais inovadores. Em termos de impacto, isso resulta em 55% menos demissões e uma probabilidade 125% menor de casos de burnout.

A investigação apreciativa também pode ser vista como uma ferramenta para criar condições que favoreçam o alcance do estado de fluxo no ambiente de trabalho e ser usada para identificar as atividades e tarefas que são mais propícias ao alcance do estado de fluxo, fazendo com que os funcionários se sintam mais realizados e felizes em suas atividades diárias.

O livro “Flow” de Mihaly Csikszentmihalyi trata da experiência psicológica do “fluxo”, que é um estado de concentração completa e envolvimento em uma atividade. Ele descreve como as pessoas podem alcançar esse estado e como isso pode levar a uma sensação de realização e felicidade. O fluxo é caracterizado por uma sensação de imersão, controle e perda de consciência do tempo. A Investigação Apreciativa e o livro “Flow” compartilham algumas semelhanças no que diz respeito ao enfoque na positividade e na busca de experiências positivas. Enquanto a Investigação Apreciativa se concentra nas forças e nos sucessos, o fluxo se concentra no envolvimento completo e na realização. Ambos buscam encontrar e amplificar o que é positivo, seja em uma organização ou em uma atividade individual.

É importante salientar que a Investigação Apreciativa não é um “remédio” para solucionar todos os problemas, mas sim uma forma de melhorar a organização de forma geral.  A felicidade dos funcionários é uma consequência disso. Portanto, é importante que a Investigação Apreciativa seja implantada de forma estratégica e contínua, para que as organizações possam maximizar seus benefícios e manter um ambiente de trabalho saudável e positivo.

Heide Castro é psicóloga, Practitioner em Investigação Apreciativa pela Case Western Reserve. É professora convidada da PUC-PR e da FAE e trabalha com a abordagem de investigação apreciativa em diferentes áreas, como educação, saúde e desenvolvimento organizacional. Publicou vários artigos e livros sobre o tema, incluindo “Investigação Apreciativa na Educação: Uma Abordagem para a Melhoria da Qualidade da Educação” e “Investigação Apreciativa no Desenvolvimento Organizacional: Uma Abordagem para a Mudança Positiva”. É autora do livro “SOAR: Uma abordagem apreciativa à Estratégia e Planejamento estratégico” e coautora dos livros “Felicidade 360º”, “Ciência da Felicidade em destaque” e em Portugal, “Educação para a Felicidade e o Bem-estar”

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