
As eleições de 2018 tiveram uma série de candidatos novatos, em sua primeira disputa por cargos eletivos, que se elegeram governadores. Foi o caso de de Wilson Witzel (PSC), no Rio de Janeiro, Wilson Lima (PSC) no Amazonas, Romeu Zema (Novo) em Minas Gerais, Ibaneis Rocha (MDB) no Distrito Federal e Marcos Rocha (PSL), em Rondônia.
Eles saltaram, em poucos meses, de desconhecidos do grande público para vencedores nas urnas. O ambiente que deu a vitória aos novatos em 2018, porém, não parece estar em alta na disputa atual.
A pré-campanha tem sido protagonizada por políticos tradicionais tanto nas pesquisas como nas articulações dos partidos.
Levantamento feito pela Gazeta do Povo com pesquisas eleitorais em 16 estados verificou que, na quase totalidade deles, os nomes em destaque são os de políticos tradicionais, ou os de “ex-novatos” – isto é, os que foram eleitos em 2018 e, agora, voltarão a buscar os votos dos cidadãos, mas já não mais na condição de novidade. Virtuais candidatos à reeleição, Zema, Ibaneis e Wilson se encaixam nessa categoria.
São Paulo e Rio têm novatos com apoio de medalhões
Se o Rio de Janeiro elegeu Wilson Witzel em 2018, que até então nunca tinha disputado uma eleição, São Paulo não ficou tão atrás: o estado mais populoso do país escolheu na ocasião João Doria (PSDB) – que apesar de já ter chegado à disputa na condição de ex-prefeito da capital paulista, ainda se apresentava como um nome de fora da política tradicional.
Liderança em SP
Em 2022, os dois estados mais populosos do país tendem a ter de escolher políticos mais tradicionais. Quem lidera a pré-campanha em São Paulo, segundo pesquisa do Ipespe feita em fevereiro, é Fernando Haddad (PT), ex-prefeito de São Paulo, ex-ministro da Educação e candidato a presidente da República em 2018.
Um dos seus principais potenciais adversários é o vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB) – que, apesar de nunca ter disputado uma eleição majoritária como cabeça de chapa, acumulou mandatos de deputado e foi presidente da Assembleia Legislativa paulista.
Já no Rio, o governador Cláudio Castro (PL) apareceu tecnicamente em primeiro lugar, de acordo com pesquisa do Real Time Big Data divulgada em 15 de março. Ele assumiu o mandato após a cassação de Witzel, em 2021. Na ocasião, já não era um novato em disputas eleitorais, pois havia sido eleito vereador da cidade do Rio em 2016.
Quem disputa a liderança com Castro no Rio é o deputado federal Marcelo Freixo (PSB). O parlamentar é um dos políticos tradicionais da esquerda local, com quatro mandatos de deputado e duas candidaturas derrotadas à prefeitura do Rio de Janeiro.
Disputa pelo Senado também tem protagonismo de políticos tradicionais
As eleições para o Senado também têm como protagonistas, até o momento, pré-candidatos veteranos. A maior parte dos levantamentos nos estados indica o favoritismo de senadores que buscarão a reeleição ou de detentores de outros cargos que tentarão uma vaga ao Senado.
Ambiente de 2018 era mais propenso a novidades, diz especialista
O cientista político Rafael Cortez acredita que o cenário de 2022 tende a ser menos favorável a novidades na comparação com 2018. Segundo ele, dois elementos tornaram a disputa de quatro anos atrás “muito singular”: a Operação Lava Jato, que incriminou políticos de diferentes partidos, e a facada sofrida pelo então candidato Jair Bolsonaro, que alterou a dinâmica eleitoral daquele ano.
Segundo Cortez, outro ponto que pode fortalecer as candidaturas “convencionais” em 2022 é a aproximação do presidente Bolsonaro e de seus apoiadores a partidos relacionados ao Centrão – como PL, PP e PTB. “A filiação a um partido tradicional, na busca pela reeleição, é o resultado da adaptação de Bolsonaro ao quadro político”, disse.
Cortez recordou a fracassada tentativa de Bolsonaro de criar o seu próprio partido, o Aliança Pelo Brasil, que abrigaria o eleitorado conservador. O presidente acabou optando por se filiar ao PL.
O cientista político menciona ainda que o fortalecimento da cláusula de barreira, que tira recursos do fundo partidário de legendas que não obtiverem um bom desempenho eleitoral, também fecha espaço para novidades. “O efeito mais óbvio dessa medida é incentivar a candidatura de quem já tenha um capital político.”
Gazeta do Povo