Reflexões para um final de ano – por Flávio Lauria

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Professor Universitário

Os tempos medidos em calendários são assim. Anos passam rápido, séculos demoram mais e milênios muito mais ainda. O ano de 2023 vai acabar em breve, mas vem aí o 2024, recomeçando tudo. A vida é cruel e difícil de entender; mas é linda e maravilhosa se soubermos apreciá-la. Como nos calendários, ela termina, mas se renova, é efêmera e rápida individualmente, mas infinita globalmente. Todos nós sabemos o que é a vida simplesmente porque estamos vivos e temos a capacidade de auto percepção, mas os animais e as árvores também estão vivos e, talvez, nem saibam disso.


Onde encontrar uma lógica nessa aparente complicação entre tempos e vidas, finitudes e infinitudes. Uma questão pode começar com o lema da bandeira brasileira: Ordem e Progresso. Há alguns filósofos que acreditam ser impossível conciliar os dois temas. Ordem implica em continuidade uniforme, em permanência de estado. Progresso implica em renovação, avanço, quebra de padrão. Como encontrar coerência nesse lema? A solução pode ser evolução. Evoluir significa passar de um estado a outro através do progresso, superando limites. Para os seguidores de Darwin, essa é a chave. Foi através de eventos alteradores do ambiente que as espécies evoluíram. Os indivíduos que conseguiram se adaptar às novas condições, sobreviveram e transmitiram essas condições às gerações seguintes. Como aplicar essas reflexões à nossa vida diária. Distinguindo quando manter a situação e quando se faz necessário buscar o progresso. Às vezes pode ser necessário vencer os limites. O objetivo será encontrar ou criar um novo patamar, uma outra situação, melhor do que a atual. Quase sempre são pressões externas que levam a uma tomada de posição.

Para chegar a esse ponto, será necessária uma avaliação minuciosa do momento e circunstâncias atuais, dos modelos existentes, das possibilidades, quem sabe, das probabilidades de acerto. Mas os limites são muito tênues em muitas ocasiões. Voltemos à vida. O nosso planeta está numa posição limite no espaço, entre o calor excessivo do sol e o frio existente em áreas mais distantes. Além disso, o globo tem uma inclinação de seu eixo no grau suficiente para produzir um rodízio nas estações. Se assim não fosse, em algumas áreas o calor seria muito grande e em outras dominaria um frio intenso, de modo permanente. Aprendemos isso com a Geografia. A alternância das estações cria a possibilidade das plantações sazonais e das colheitas no momento certo, da renovação da natureza, do ciclo entre o calor e frio. Essa ordem perfeita permitiu a vida, mas os cataclismos geraram a evolução, segundo Darwin, obrigando as espécies a evoluir pela adaptação.

Isso em um enfoque macro. Se partirmos para o micro, o indivíduo, o humano, veremos que também aí existem limites tênues. A temperatura corporal é um exemplo claro. A variação permitida se situa em apenas 4 ou 5 graus, entre os 35 e os 40º, pois se a temperatura variar para menos ou mais do que esses limites, a vida começa a ser ameaçada. E vida ameaçada reage, pois ela quer se manter. E a manutenção se busca tanto no plano individual quanto no coletivo. Então, permeando a Ordem e o Progresso estão os Limites. E nós, humanos ditos racionais, mas embebidos e envolvidos pelas emoções, precisamos a cada momento definir onde devem ficar esses limites.

A questão será sempre quando manter a ordem e quando e como buscar o progresso. Essas questões e as consequências das decisões tomadas estão presentes na vida diária: no trabalho, na família, nas relações sociais e políticas. O problema dos limites se aprofunda mais ainda quando sabemos, pela psicanálise, que o sujeito humano não é fruto de si mesmo, mas da sua história, da fala e do olhar do Outro. Foi desse Outro, de uma série de circunstâncias, que ele se constituiu, portanto, suas “opiniões” têm muito daquilo que ele recebeu do Pai, da Mãe, ou mesmo da falta desse Pai e dessa Mãe, além do recebido da cultura e dos costumes da sociedade em que está inserido. É o que a psicanálise chama de sujeito.

Assujeitado pela sua história, mas com a possibilidade de tornar-se o sujeito, aquele que age, que toma a decisão. Quando chega a essa posição ele se torna igual a como nos ensina a gramática, o sujeito é o senhor da ação. Então, caro leitor, cara leitora, busque um equilíbrio entre a sua ordem e o seu progresso, procurando se conhecer mais e administrar o melhor possível os seus limites, analisando o sujeito que você é. Mas respeite os limites do outro. Especialmente quando se aproxima um final de ano e expectativa de um novo, o momento parece oportuno para uma reflexão: o que devo e posso fazer para atingir um novo patamar em meu progresso pessoal, superando a ordem antiga e o que posso e o que devo realizar para contribuir na evolução da sociedade a qual pertenço e integro. As respostas a essas perguntas certamente não conhece.

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