Reflexões sobre as eleições

Advogado Paulo Figueiredo (AM)

Paulo Figueiredo


Na aldeia de Herbert McLuhan, o desencanto com a política é global, fato que levou à eleição de ‘outsiders’, tendo com exemplo maior a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos. Com êxito inimaginável, o milionário chega à Casa Branca debaixo de expectativas negativas de boa parte da população estadunidense e da comunidade internacional. Não poderia ser diferente, diante dos disparates e das promessas esdrúxulas e irrealizáveis do candidato em campanha, antigo apresentador de ‘reality show’, ex-dono de cassino e grande investidor do mercado imobiliário. Antes de dar inteira razão às palavras de Pio XII, para quem o mundo era governado por medíocres, o mínimo que se espera é que esse ‘cowboy-playboy’ urbano entre nos eixos, reveja seus propósitos ensandecidos e se reencontre com o espírito da América do Norte e de seus pais fundadores.
No Brasil, também tivemos os nossos ‘estranhos no ninho’, com a eleição de João Dória, em São Paulo, e Alexandre Kalil, em Belo Horizonte, em duas das maiores capitais do país. O êxito de Marcelo Crivella, no Rio de Janeiro, apesar de premiar um nome do meio, não deixa de revelar certa distância do universo da política tradicional, considerando-se as condições pessoais e religiosas do eleito no segundo maior colégio eleitoral do Brasil. A propósito, em pronunciamento recente, o pastor licenciado da Universal, onde pontifica seu tio Edir Macedo, já fez a defesa de políticas públicas a serem implementadas em harmonia com preceitos de sua profissão de fé evangélica e neopentecostal.

Advogado Paulo Figueiredo (AM)
Advogado Paulo Figueiredo (AM)

Mas a desilusão não se manifestou apenas na eleição de nomes de fora do contexto eleitoral regular, mesmo porque foram poucos os postulantes que se apresentaram com tal característica. Talvez o tempo tenha sido curto ou o desinteresse mais profundo tenha levado à omissão. Quem sabe se em 2018 um outro número de candidatos não se disponha a enfrentar as urnas,  talvez motivados pelas conquistas atuais e surpreendentes dos candidatos não políticos. Os números de eleitores que deixaram de votar, votaram em branco ou anularam o voto, nos principais centros urbanos, dão a medida da decepção dos brasileiros com a política que se pratica no país e sua classe política.

Os resultados apurados e expressos nas páginas do Tribunal Superior Eleitoral não deixam a menor dúvida e significam muito mais do que um sinal de alerta. Eleitores que se abstiveram ou não votaram em nenhum candidato, em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre, somaram em média mais de 40% e exibem o claro e fundo descompasso entre representantes e representados no processo eleitoral. De mais a mais, como o voto é obrigatório, o eleitor não tem como escapar, imaginando-se o que ocorreria na hipótese do sufrágio facultativo. O certo é que ou o Brasil muda, com a urgência das urgênci as, ou as consequências podem ser imprevisíveis, sem contar com a varredura que a Lava-Jato ainda promoverá no ambiente. Estima-se que cerca de 50% dos políticos terão a cabeça no cutelo, com a delação dos executivos da Odebrecht e do presidente da empresa.

Ainda assim, a turma não toma jeito. Sem o menor pudor, Renan Calheiros insiste em aprovar projeto de sua autoria contra abuso de autoridade, com objetivos evidentes de por um freio nas investigações contra o mar de corrupção que toma conta da Nação. Quem não lembra da manobra orquestrada pelo alagoano com Ricardo Lewandowski, presidente do Supremo, a fim de manter os direitos políticos de Dilma Rousseff, após a decretação do impeachment da presidente. Agora mesmo, em crise recessiva brutal da economia, o Senado compra 220 TVs de plasma, câmaras de monitoramento e fechaduras biométricas para a resi dência do presidente da Casa e apartamentos dos senadores, pela bagatela de R$ 26 milhões. Na Câmara Federal, tenta-se anistiar a prática do crime de caixa 2, no bojo da iniciativa proposta pelo Ministério Público pela adoção das 10 medidas de combate à corrupção, com apoio em milhões de assinaturas da população.

Como se não bastasse, ensaiam um arremedo de reforma política, com a proibição de coligações proporcionais e percentuais ridículos para a chamada cláusula de barreira. Ainda assim, com aplicação de prazo bastante dilatado, 2022, 2026 e sei lá. Tudo para inglês ver, porquanto as regras deveriam ser bem mais rígidas e de adoção imediata, a partir do pleito de 2018, única forma de castrar essa orgia de legendas de aluguel e de partidos sem voto.

Engraçado é que os comunistas do PC do B e assemelhados, de igual ou sem nenhuma importância, reclamam que seriam excluídos da representação política. Esquecem que recentemente vociferavam contra o impeachment de Dilma, sustentando que na democracia fundamental é o voto popular. Pois bem, nada opor, mesmo porque em causa situações distintas. Agora, com a maior cara de pau, fogem do voto como o diabo da cruz, cientes de que não conseguirão o mínimo para ter existência real.(Paulo Figueiredo é Advogado, Escritor e Comentarista Político – [email protected])

Artigo anteriorCultura de Inovação na PRODAM é tema de palestra no maior fórum de TI do Brasil
Próximo artigoPraia Clube derrota São Caetano em jogo da Liga Feminina de Vôlei, em Manaus

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui