

A imprensa noticia: PR de Valdemar Costa Neto criará mais um partido e Gilberto Kassab diz que usará o poder para transformar o seu o PSD no terceiro ou no segundo maior partido do Congresso. O primeiro, o notório Valdemar, condenado pelo Supremo Tribunal Federal, cumpre pena e até bem pouco tempo encontrava-se recolhido à prisão da Papuda em Brasília. Desde o governo inaugural do metalúrgico Lula da Silva, dá as cartas no comando do Ministério dos Transportes. O segundo, o conhecido Kassab, derrotado pelo povo de seu estado, ao obter votação ridícula como candidato ao Senado por São Paulo, é ministro de Dilma, titular do importante Ministério das Cidades, que dispõe de invejável orçamento, com larga influência no concerto da Federação.
Os métodos: um e outro, Kassab e Valdemar, orquestram a criação de dois partidos políticos, com o único propósito, único, repita-se, de atrair deputados dispostos ao mercantilismo parlamentar. Usam o poder, a distribuição de cargos e verbas dos respectivos ministérios para alcançar seus objetivos. Pretendem investir sobre as fileiras do PP, PROS, PSDB, PSB, DEM, PMDB e outros nanicos, cientes de que poderão conseguir um número significativo de adesões, com as quais estruturarão as novas agremiações partidárias. Como sempre, interesses fisiológicos rasteiros e não republicanos, tão somente.
Os partidos já possuem nomes definidos por seus mentores e criadores, PL – Partido Liberal, de Kassab, e MB – Muda Brasil, de Valdemar. Constituídos, ter-se-á então a segunda etapa, que será a incorporação ou fusão do Partido Liberal com o PSD e do Muda Brasil com o PR, já engordados com os infiéis em fuga de suas antigas legendas. Kassab tem como certo o ingresso no PL de 20 deputados, enquanto Valdemar está seguro do apoio de 16 parlamentares já comprometidos em mudar de partido.
É muito cinismo, a tal ponto que o fundador oficial do Muda Brasil, o desconhecido José Renato da Silva, lamenta que não esteja sendo ajudado em seus elevados propósitos por Valdemar da Costa Neto. No entanto, declara-se admirador entusiasta do famoso mensaleiro, ao mesmo tempo em que fontes do PR confirmam o aval e a participação do próprio na criação da nova sigla. Convenhamos, assim é demais. É tripudiar, com a maior desfaçatez do mundo, sobre a inteligência até de observadores desatentos da cena política brasileira.
A zorra é total e o escracho revolta. Mais grave é que esses procedimentos são legais, acham-se autorizados pela legislação eleitoral e partidária, ainda que imorais. Mesmo com propósitos claramente definidos de contornar e fraudar por vias oblíquas a obrigação de fidelidade partidária, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deferirá a criação das legendas, uma vez cumpridas as formalidades e exigências legais. Entretanto, diante de tamanho insulto à opinião pública e ao próprio TSE, frente ao objetivo único revelado, como fato público e notório, creio que se poderia arguir perante a Justiça Eleitoral a impugnação dos registros das novas siglas, em função de vícios expostos e em processos condenáveis de formação.
De mais a mais, programas políticos e ideológicos, com propostas, como determina a lei, somente para inglês ver, numa repetição enfadonha do que é dito e proclamado pelas demais entidades partidárias do país com registro legal. Não sei aonde chegaremos com nossa frágil democracia nesse verdadeiro balcão de negócios em que foi transformada a ação política no Brasil. Já temos 32 partidos e agora poderemos chegar a 34, com as linhas auxiliares anunciadas de Kassab e Valdemar, enquanto o TSE faz vista grossa para maquinações políticas antiéticas e reprováveis.
No governo, enquanto não sai a tão almejada reforma política, manda hoje quem tem voto no parlamento, como se observa com a composição do recente ministério de Dilma Rousseff. E é por isso mesmo que há um verdadeiro corre-corre na montagem de maiorias congressuais a cada legislatura que se inicia. O lulopetismodilmista terminou de aquinhoar um leque bem maior de legendas, alguns nanicos, num quadro que agasalha visões e posições tão distorcidas e opostas, como as que vão de Patrus Ananias a Kátia Abreu ou de Miguel Rossetto a Armando Monteiro, dentre outras, uma salada de fazer corar conservadores de direita a radicais de esquerda.
Como diz um senador convidado a integrar o governo e que prefere manter-se no anonimato, após ter recusado a proposta insistente que lhe fizeram, o governo Dilma navega em águas traiçoeiras, como o Titanic, próximo do desastre irremediável.(Paulo Figueiredo – advogado, escritor, analista político – [email protected])