
Alunos de escolas da região Norte do país foram duramente impactados pelos eventos climáticos extremos que se apresentaram no verão amazônico neste ano. Primeiro eles sofreram com a fumaça decorrente das queimadas. No entanto, a seca que se prolongou deixou muitos deles sem as aulas presenciais. No Amazonas, escolas de 19 dos 62 municípios – cerca de um terço do total do estado – tiveram o aprendizado afetado por problemas na navegação.
A dificuldade de acesso à escola não é um problema só dos 4,3 mil alunos da Secretaria de Estado de Educação e Desporto Escolar do Amazonas (Seduc-AM). Francisco Pereira, de 61 anos, morador do bairro de Puraquequara, em Manaus, tem sete netos e conta as batalhas diárias para que eles tenham acesso à educação quando chega a época da seca. Próximo à comunidade em que eles residem, só tem uma escola municipal acessível, que de transporte fluvial. O trajeto que levava de 15 a 20 minutos agora é impossível com a estiagem.
Ele narra que as crianças estavam havia pouco mais de um mês tendo aula apenas uma vez por semana, quando tinha professor, mas que essa semana foi determinada a suspensão definitiva das aulas. Uma das tristezas de seu Francisco é o afastamento da neta que ele criava e precisou devolvê-la para a mãe, pois tinha que trabalhar e a esposa não tinha como levar a pequena para a escola.
“Minha netinha eu mandei para fora porque está muito difícil. Eu trabalho e a minha esposa não sabe guiar a rabeta (pequeno barco).(…) Dói estar longe, mas pelo menos sei que ela vai ter acesso aos estudos, o que eu não tive por ter que ficar com a minha mãe e por não ter tido auxílio de ninguém.”
Vizinha de Francisco, Sunamita Alves cria a neta de 9 anos e conta que enfrenta uma série de dificuldades para que a menina tenha acesso à educação. A avó revela que com a suspensão das aulas, a alimentação também se transforma em mais um problema.
“Aqui eu não consigo oferecer a qualidade e a diversidade que a escola pode oferecer. Eu preciso, por exemplo, me planejar para ir na cidade durante a semana comprar os alimentos.”
A Seduc-AM afirmou que os alunos da rede estão tendo acesso a aulas remotas e ao “kit merenda” com 14 itens alimentares entregues às famílias dos estudantes. A reportagem procurou a Secretaria Municipal de Educação de Manaus. No entanto, não houve resposta ao e-mail enviado nem retorno às ligações.
Fonte: Metrópoles