Suframa, egos inflados, soluções distantes (Por Osiris Silva)

Economista Osiris Silva (AM)

Há, além das que vimos aqui analisando, outras consequências nefastas do afastamento da Suframa de seus objetivos estruturais. Como não se corrige esses pontos de estrangulamento, a Superintendência tornou-se presa fácil de sucessivos governos desde a redemocratização em 1985. As frustrações e os constrangimentos são muito fortes quando se constata a crescente repetição de equívocos e desvios de finalidade. Muito mais grave, não apenas o distanciamento dos fundamentos determinantes de sua instituição (DL 288/67), mas, consequentemente falhar grotescamente em sua missão de promover o crescimento econômico e social da Amazônia Ocidental.
Penso que, neste exato momento, governo do Estado e Suframa, mais as entidades representativas de classe, os estudantes, sindicatos, a Academia, a Pesquisa e a classe política deveriam, reunidos na ágora, estar discutindo a fragilidade do modelo e a necessidade de seu ajuste à dinâmica econômica mundial e aos percalços políticos brasileiros. Mas nada disso acontece. O País desmorona, a ZFM perde de forma crescentemente acelerada a corrida tecnológica, industrial e comercial, e o que toma conta das preocupações oficiais? A nomeação de adjuntos. O que não faz o menor sentido, evidentemente. Ao escolher a deputada Rebecca Garcia para o comando da Suframa, o governo federal, ipso facto deveria outorgar-lhe o direito elementar de montar sua equipe de trabalho. Com a condição de premiar a meritocracia, a competência técnica e o conhecimento consolidado das rotinas e especificidades operacionais da instituição em relação a cada auxiliar. Afinal, se Garcia não goza dessa prerrogativa básica, então por que nomeá-la?


Diante de mar tão proceloso, revolto, tempestuoso e de ilimitadas insanidades políticas que marcam forte a presente fase de transição na Suframa, fui buscar em Niccolò Machiavelli uma explicação presumivelmente razoável e convincente para o conjunto das ferozes e altamente danosas (ao desenvolvimento) disputas de poder trazidas a público por conta de cargos no Amazonas. O capítulo XXII de sua obra prima, O Príncipe, escrito em 1513 (começo do século XVI, tempo do Renascimento, quando as Américas e o Brasil acabavam de ser descobertos), não deixa dúvida. Segundo o florentino, “a escolha de ministros por parte de um príncipe não é coisa de pouca importância: os ministros serão bons ou maus, de acordo com a prudência que o príncipe demonstrar”. Por outro lado, mais especificamente Maquiavel assegura que “a primeira impressão que se tem de um governante e da sua inteligência é dada pelos homens que o cercam. Quando estes são eficientes e fieis, pode-se sempre considerar o príncipe sábio, pois foi capaz de reconhecer a capacidade e de manter fidelidade. Mas quando a situação é oposta pode-se sempre fazer dele mau juízo, porque seu primeiro erro terá sido cometido ao escolher assessores”.

O Centro Internacional de Políticas para Crescimento Inclusivo (IPC-IG) do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), e o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA) lançaram o “Atlas da Extrema Pobreza no Norte e no Nordeste do Brasil em 2010”. O documento identifica os municípios dessas regiões com maior concentração de pessoas residentes em domicílios com renda mensal per capita de até 70 reais (cerca de US$ 30.00) em 2010. Os coeficientes relativos ao Amazonas são desastrosos. O Atlas dá conta de que, de uma população de 3,46 milhões de habitantes do Estado, 1,13 milhão, 32,6%, um terço de amazonenses encontra-se em situação de pobreza absoluta. Sem qualquer perspectiva de evolução social, porque, nas zonas rurais e na maioria das sedes municipais tomadas por favelas, são de péssima qualidade o nível educacional, de saúde pública e de saneamento básico. Mas, quem está preocupado com “esse pormenor”? Qual enfim o fundamento de tais  disputas? Egos inflados, vaidades, presunção, jactância, soberba, vanglória. Nada além disso.(Osiris Silva – Economista, Consultor de Empresas e Escritor)

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