Uma concertação pela Amazônia – por Osíris Silva

Escritor e economista Osíris Silva/Foto: Divulgação

Um sonho distante, mas que começa a tomar forma. O objetivo: promover ampla aliança na busca pelos problemas enfrentados pela Amazônia. A proposta é de iniciativa de donos e executivos de grandes empresas e bancos, pesquisadores, militares, economistas, políticos e ambientalistas de distintas procedências. O título do projeto – Uma Concertação pela Amazônia -, vem atraindo interesses multiformes e já reúne mais de 100 nomes interessados em entender a região, discutir como desenvolver seu potencial sem derrubar a floresta e melhorar a qualidade de vida da população. De acordo com matéria publicada no jornal Valor Econômico, em agosto passado, a intenção do grupo líder da empreitada é construir pontes com o resto do país. Trata-se, em síntese, de mais um esforço do setor privado, da Academia e da sociedade civil de se organizar e debater diferentes visões em torno da Amazônia no vácuo deixado pelo poder público.


Outras ações de idênticas proporções, provenientes da iniciativa privada, vêm se multiplicando. Com efeito, além do programa “Juntos pela Amazônia”, o grupo JBS lançou, no último dia 23, o “Fundo pela Amazônia”. O foco aponta para o desenvolvimento sustentável da bioeconomia, ampliação do reflorestamento e conservação ambiental da floresta, além de ações voltadas ao fomento da pesquisa científica e tecnológica; apoio social às comunidades caboclas e a projetos de geração de renda destinados a indígenas, ribeirinhos e quilombolas. O orçamento do fundo deverá alcançar R$ 1 bilhão em doações até 2030. Para cumprir as metas, o grupo empresarial compromete-se “a igualar doações feitas por terceiros, até que o aporte do grupo atinja R$ 500 milhões, sendo que se compromete com doação mínima de R$ 250 milhões nos primeiros cinco anos tendo em vista garantir o início das atividades do fundo”, informa a alta administração da JBS.

Há, na verdade, riquíssimos campos onde investir, mas a Amazônia continua desprovida de projetos de desenvolvimento com articulação governo-iniciativa privada. De acordo com a amazonóloga Bertha Becker, o aproveitamento das riquezas da floresta é hoje uma possibilidade concreta. Existem mercados a serem explorados e muitos outros por pesquisar mundo afora. Há vários exemplos de campos comerciais que estão prontos para serem aproveitados. Como afirma Becker, o ramo biomédico, por exemplo, embora seja difícil concorrer com os grandes laboratórios mundiais; o da nutracêutica, que é gigantesco, e para quem não sabe diz respeito aos alimentos naturais que geram bem-estar e saúde, além da dermocosmética, que algumas empresas brasileiras estão começando a explorar muito bem, inclusive internacionalmente. Verdade claríssima, e incontestável, a alta tecnologia gerada na universidade, centros de pesquisas e empresas precisa entrar na Amazônia para permitir a descoberta de novos produtos e mercados.

O Amazonas alia-se a esses movimentos. A partir dos resultados positivos alcançados pela aliança Fieam, Cieam, Eletros e Abraciclo nas ações de combate à pandemia empreendidas pelo Comitê ZFM Covid-19, o grupo está seguindo adiante. Com base na relevância e eficácia dessa experiência, segundo Wilson Périco, presidente do Cieam, “nos sentimos fortes e motivados para seguir trabalhando nesse formato”. O próximo (e ousado) passo diz respeito à instalação da “Convergência Empresarial do Amazonas”, resultado da somatória de esforços e competências das representações do segmento. A organização vai se voltar à busca de alternativas, consolidar metodologias, avançar iniciativas ao enfrentamento dos desafios e contradições, e, ainda, balizar, com subsídios e demandas, ações parlamentares, assim como promover fundamental alinhamento junto ao governo amazonense no que concerne a ações e posicionamentos diante das reformas que se avizinham. Um salto e tanto de qualidade, posto levar o empresariado a ocupar o espaço que lhe compete no esforço de desenvolvimento do Estado.

Manaus, 26 de setembro de 2020.

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