A armadilha da mulher “boa demais”: como o desejo de ser aceita pode sabotar a saúde mental – por Luanna Cunha

Luanna Cunha é Psicóloga Clínica e Organizacional - Foto: Divulgação

Ser gentil, prestativa, compreensiva. Crescemos ouvindo que esses são os atributos que tornam uma mulher “boa”. Mas o que acontece quando esse desejo de agradar a todos se transforma em uma prisão emocional silenciosa? Em consultório, escuto com frequência mulheres emocionalmente exaustas, que carregam culpa por dizer não, sentem medo de desagradar e se anulam para manter vínculos — sejam familiares, profissionais ou afetivos.


A psicologia já nomeou esse fenômeno: people pleasing. Por trás do comportamento “boazinha”, geralmente existe uma tentativa inconsciente de evitar rejeições, conflitos e críticas. Mas essa busca por aceitação, quando vivida de forma compulsiva, pode custar caro à saúde mental.

A máscara da bondade: onde começa a autoanulação?

Pesquisas da Universidade de Harvard apontam que mulheres com altos níveis de complacência social apresentam maior propensão a desenvolver ansiedade, depressão e síndrome de burnout. Isso ocorre porque, ao priorizar constantemente os outros, elas ignoram seus próprios limites e necessidades básicas.

Essa autoanulação nem sempre é percebida como um problema. Pelo contrário: a sociedade reforça a ideia de que a mulher “do bem” é aquela que se adapta, concilia, renuncia. Assim, muitas mulheres confundem submissão com generosidade — e, ao longo do tempo, perdem a capacidade de se ouvir.

“Ser boazinha demais é perigoso. Você começa cedendo em pequenas coisas e, quando se dá conta, não sabe mais quem é sem a aprovação dos outros.”

— Relato de uma paciente de 36 anos, líder em uma grande organização.

As consequências psicológicas do “sim” constante

Do ponto de vista neurocientífico, o ato de negar as próprias vontades de forma recorrente ativa regiões do cérebro ligadas ao estresse crônico. O córtex pré-frontal, responsável por decisões conscientes, entra em conflito com o sistema límbico, onde estão as respostas emocionais — o que gera exaustão mental e emocional.

Além disso, a exposição prolongada à autonegação está associada à queda da autoestima, dificuldade em estabelecer limites e maior incidência de quadros depressivos em mulheres com perfil de overachiever (as que buscam perfeição em tudo o que fazem).

Como romper o ciclo do “agradar para sobreviver”?

A saída não está em se tornar “má” ou insensível, mas em construir uma nova referência de força: aquela que inclui autenticidade, autocuidado e integridade emocional.

Aqui estão três movimentos que tenho trabalhado com mulheres em terapia e também nas organizações:

1. Nomear a dor
Reconhecer o quanto esse padrão de agradar foi aprendido, muitas vezes desde a infância, é o primeiro passo para transformá-lo.
2. Ensaiar limites com segurança
Dizer “não” pode gerar culpa no início, mas é também um exercício de libertação. Em um ambiente terapêutico ou em espaços seguros, esse movimento ganha força.
3. Substituir o medo de rejeição pelo compromisso com a verdade
Quando a mulher se compromete com sua verdade — ainda que desconfortável para os outros —, ela recupera sua potência.

Boazinha pra quem?

É preciso coragem para se perguntar: “Essa versão que ofereço ao mundo me representa ou me aprisiona?”. Ser uma boa pessoa não deveria significar se anular, mas sim se relacionar com integridade, empatia e verdade.
Ser autêntica pode incomodar. Mas ser falsa consigo mesma custa muito mais caro.

Se você é uma mulher que se sente constantemente esgotada por tentar agradar a todos, talvez seja hora de revisitar o que significa, para você, ser “boa”.

O que te impede de ser inteira?

Luanna Cunha é Psicóloga Clínica e Organizacional

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