No Amazonas, o tiro saiu pela culatra e o feitiço contra o feiticeiro

feitiço


O segundo turno das eleições no Amazonas foi marcado pelas investidas do candidato Eduardo Braga (PMDB), que se valeu de matéria “jornalística” publicada na Revista Veja, para em sua propaganda eleitoral, trocar a apresentação de propostas de governo por ataques a imagem do candidato José Melo (PROS), ao seu governo e o pior, ao Amazonas.
A banalização das denúncias “jornalísticas” é algo que precisa ser repensado, bem como a utilização da mesma, como artifício espúrio à atingir a moral e a dignidade das pessoas e, principalmente, dos agentes políticos, principalmente em período eleitoral. Com essa prática, atinge não somente o indivíduo, mas o próprio povo, que se vê em uma situação de crença no inverídico ou de descrença do verdadeiro.
No estado de direito, jamais podemos esquecer que está em favor do cidadão “o princípio constitucional da presunção da inocência”. Ou seja, toda pessoa é inocente, até que se prove a sua culpa perante o Tribunal, se for o caso.
Diante das investidas políticas com base unicamente em matéria “jornalística”, na atualidade, é obrigatório lembrar o caso do ex-deputado federal Ibsen Pinheiro, esclarecido 11 anos depois de sua injusta cassação e martírio.
A matéria publicada na Revista “ISTOÉ” do dia 18/08/04, com o caso Ibsen vem precedida do seguinte título: “A verdade aparece” e traz em seu bojo o seguinte:
“…. Mas uma revelação de um repórter em artigo enviado para o livro a  ser lançado pelo ex-presidente da Câmara Ibsen Pinheiro (PMDB-RS) mostra que a descoberta da verdade independe de mecanismos repressivos. Em 1992, Fernando Collor teve seu impeachment aprovado pelo Congresso. Um ano depois foram cassados parlamentares por corrupção na célebre CPI do Orçamento. No centro dos dois casos estava Ibsen. Político em franca ascensão, ele comandou a sessão que abriu o caminho para o impeachment. Um ano depois, enfrentou um calvário que culminaria em sua cassação, escudada em uma acusação de envolvimento com a Máfia do Orçamento.
Passada uma década surge uma revelação que obriga a revisão da história. O jornalista Luís Costa Pinto (Lula), à época editor da revista Veja em Brasília, decidiu contar os bastidores da reportagem de capa de sua autoria, em novembro de 1993, onde afirmava que a CPI descobrira que Ibsen movimentou US$ 1 milhão em suas contas. O relato acusa Waldomiro Diniz, então assessor do atual ministro José Dirceu (PT-SP), de ter vazado uma “falsa prova”. Além de confessar um erro, Costa Pinto revela detalhes da história que foi decisiva para incinerar Ibsen. Junto com o mandato, o ex-presidente da Câmara perdeu dez quilos e tempo indagando os motivos de sua ruína política. ISTOÉ o procurou para falar de seu livro e teve acesso ao artigo de Costa Pinto.
Versão mantida

O jornalista conta que a revista  identificou o erro nas contas de Waldomiro: não seria US$ 1 milhão, mas apenas US$ 1 mil. Como a edição estava praticamente fechada – relembra Costa Pinto –, o editor-executivo, Paulo Moreira Leite mandou encontrar alguém que sustentasse a versão de US$ 1 milhão. Acharam o deputado Benito Gama (PFL-BA), membro da CPI e ex-presidente da CPI/Collor. Costa Pinto diz que contou a Benito sobre o erro. A reportagem manteve o valor de US$ 1 milhão com a frase de Benito: “É fundamental não errarmos nas contas de Ibsen. E não erramos.” Erraram sim, de propósito.
A seguir, o artigo escrito pelo jornalista Luís  Costa Pinto, que foi editor e chefe da sucursal de Veja no Recife e em Brasília, repórter dos jornais O Globo e da Folha de S.Paulo, editor da revista Época e editor-executivo do Correio Braziliense. Hoje, é consultor de comunicação e de marketing político:
Máfia dos Anões

Cerca de dois meses depois de iniciadas as  investigações parlamentares acerca dos desmandos e da cobrança de propinas na Comissão de Orçamento do Congresso Nacional, o nome de Ibsen Pinheiro emergiu associado à Máfia de Anões que corrompia o erário. O primeiro documento revelado para incriminá-lo era um cheque do ex-deputado Genebaldo Correia (que renunciou ao mandato na esteira das investigações) depositado em sua conta bancária. Horas depois de divulgada a informação dando conta da existência desse cheque, a assessoria de Ibsen Pinheiro passou a afirmar que o cheque era referente a uma transação financeira com uma camionete. O valor do documento bancário era compatível com essa transação e o carro, de fato, fora transferido de um para outro – mas a obviedade do álibi não aplacou a ânsia de apuração jornalística sobre o fato. O segundo documento divulgado para estabelecer um elo entre o ex-presidente da Câmara e a Máfia dos Anões do Orçamento era uma fotografia tirada durante um jantar em uma ilha grega – mostrava Ibsen cercado por cinco dos sete anões do Orçamento. (…)
CPI do Orçamento

O cheque de Genebaldo Correia e a foto da  Grécia sustentaram uma semana de acusações nos jornais contra o ex-presidente da Câmara dos Deputados. Mesmo desarticulados, mas fiando-se na ausência de outras provas que maculassem ainda mais a biografia de alguém que fora interlocutor privilegiado da República por dois anos, os amigos de Ibsen conquistavam terreno na árdua tarefa de desmentir as acusações. No intestino da CPI do Orçamento, que caminhava para um desfecho melancólico, pois só ia cassar deputados do chamado “baixo clero” parlamentar, buscava-se uma revelação de impacto. Foi nesse ambiente que se perpetrou um dos grandes erros jornalísticos contemporâneos.
Waldomiro exibia um sorriso triunfal. “Pegamos Ibsen”, disse-me. Em seguida, exibiu sete boletos de depósitos bancários, já dolarizados por ele, e que, segundo me dizia, provavam a transferência de US$ 1 milhão de uma conta bancária de Ibsen Pinheiro de uma agência da Caixa Econômica para uma agência do Banrisul. “Ele não tem salário para ter tanto dinheiro. Isso é a prova da corrupção”, asseverou Waldomiro. Irresponsável, mas maravilhado com a possibilidade de cravar um furo na edição de Veja do fim de semana seguinte, embarquei na versão e na dolarização. Não chequei as informações.

Comuniquei aos editores em São Paulo que estava mudando o tom da reportagem que concluía e passava a ser mais afirmativo contra Ibsen. Liguei para o ex-presidente da Câmara – afinal, ouvir o outro lado é praxe muitas vezes cumprida com burocracia. Ele me negou a história, negou-me os depósitos e os valores, mas eu preferi acreditar nos documentos que tinha em mãos – afinal, registrar o outro lado burocraticamente também é praxe no jornalismo. A nova informação autorizou uma chamada de capa mais enfática contra o ex-deputado – “Até tu, Ibsen?”. A principal revista semanal de informação do País, que ia ficar exposta nas bancas por uma semana, era um libelo acusatório contra o presidente da Câmara dos Deputados que liderara a votação do impeachment ao ex-presidente Fernando Collor de Mello um ano antes.
Escrevi o texto e enviei os documentos  bancários por fax para São Paulo. Com a reportagem lida, modificada e aprovada pelos diversos escalões editoriais de Veja, cheguei à minha casa por volta das 2h da madrugada do sábado.

Pouco antes das 8h fui acordado por toques insistentes da campainha do apartamento onde morava. Era Silvânia Dal Bosco, colega na redação de Veja. “O Paulo Moreira quer falar com você. Deu um problema grave lá em São Paulo… na edição da matéria do Ibsen”, disse-me Silvânia. “Ele está tentando ligar para cá, para a sua casa, mas só dá ocupado.” O meu filho tinha deixado o telefone fora do gancho. Liguei para Paulo Moreira, então editor-executivo de Veja. Tenso, Paulo disse-me que Adam Sun, chinês implacável que por muitos anos zelou pela qualidade das informações publicadas em Veja na condição de chefe da equipe de checagem da revista, descobrira que a dolarização estava errada. “Lula, essa soma não dá US$ 1 milhão. Dá US$ 1 mil”, gritou-me Adam do outro lado da linha. Eu gelei. “Paulo, tem jeito?”, perguntei. “Não”, cravou-me ele, friamente. “Já rodamos 1 milhão e 200 mil capas. E jogar fora 1 milhão e 200 mil capas é um prejuízo impagável (hoje cerca de R$ 100 mil). Podemos, ainda, mexer no texto dentro da revista – mas isso vai atrasar a remessa para o Rio de Janeiro e para o interior de São Paulo”, advertiu-me ele. “Vê se consegue, em dez minutos, alguém para sustentar em on essa dolarização de US$ 1 milhão”, sugeriu.”
Assim foi, em síntese, o extermínio de uma vida pública de um Parlamentar honesto, probo, digno e ético. Mas os objetivos espúrios foram atingidos. A sociedade foi enganada e uma família arrasada pela ânsia daqueles que não medem esforços e se afagam na injustiça para atingir seus malfadados objetivos.

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Eleições Amazonas\2014

Voltando ao Amazonas, a propaganda de Braga ficou restrita a atacar o governo Melo no quesito “SEGURANÇA”, talvez porque diferentemente da saúde, educação, etc…, a segurança atinja a todos, simultaneamente e indistintamente, mas ao contrário do esperando, o tiro saiu pela culatra, mais do que isso, nos últimos dias da campanha, cabos eleitorais contratados pelo candidato Eduardo Braga, são presos em flagrante fazendo assaltos em Manaus, parece que outro ditado popular cabe bem aqui (“o feitiço virou contra o feiticeiro”).
Por outro lado, mesmo sendo atacado, José Melo continuou com suas propostas para governar o Amazonas e, no debate, mesmo quando Eduardo Braga pensou que Melo iria atacar sua família e logo se defendeu, José Melo manteve-se na linha das propostas, simplesmente quis dizer, poderia ter usado de leviandade, mas não fiz por respeito a família.
Nestas eleições, tire suas conclusões e vote com consciência limpa e comprometida com a verdade”.

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