
Até a década de 90, a Semana Santa era um período reverenciado com profundo respeito e devoção. Os ensinamentos e rituais eram transmitidos de geração em geração, e cada fase da semana tinha seus próprios costumes e tradições sagradas. Tudo começava com o Domingo de Ramos, seguido pela quarta-feira, quando o feriado se iniciava e a abstinência de carne era rigorosamente seguida, com a preferência por peixes, em respeito à tradição. O jejum religioso era observado e as idas à missa diárias eram uma prática comum em todas as igrejas católicas dos bairros.
Todas as tradições aprendemos com nossos pais e na catequese da igreja, por isso seguíamos a risca todos os ritos da Semana Santa. A Sexta-Feira Santa era um momento singular, marcado pela participação nas procissões que reencenavam os passos de Jesus Cristo até a crucificação. A emoção era palpável, e cada passo dado relembrava a dor e o sacrifício de Cristo pela humanidade. A Semana Santa culminava no Domingo de Páscoa, dia de celebrar a ressurreição de Cristo, enchendo os corações de esperança e alegria. Era um privilégio vivenciar esses momentos de fé e tradição.

No entanto, ao longo dos anos, tenho observado uma mudança gradual nesse cenário. Recentemente, durante a Sexta-Feira Santa, notei que vários estabelecimentos comerciais estavam abertos, e as ruas estavam repletas de pessoas desfrutando de churrascos, bares e lanches, muitos deles imersos em uma atmosfera de festa e bebedeira. Essa transformação é reflexo de várias mudanças na sociedade contemporânea.
Uma das razões para essa mudança é o crescimento do número de evangélicos, que têm práticas e tradições religiosas distintas das da Igreja Católica. Além disso, percebe-se um desinteresse crescente de uma parte significativa da população em relação aos aspectos religiosos da Semana Santa. Essas transformações são parte natural da evolução da sociedade, e é inevitável que as tradições religiosas se adaptem a essas mudanças.

Não podemos julgar se essas mudanças são boas ou ruins, mas é evidente que o cenário da Semana Santa está se transformando. Em um futuro não tão distante, pode ser que essas tradições se tornem cada vez mais raras. O que importa é manter viva a mensagem de amor, perdão e renovação que a Semana Santa representa, independentemente das mudanças que ocorram ao nosso redor.
