[Crônica] And the Love lies down… – por Isabela Abes Casaca

– Cordeiro de Deus que tirai os pecados do mundo, tende piedade de nós. Cordeiro de Deus que tirai os pecados do mundo tende piedade de nós. Cordeiro de Deus que tirai os pecados do mundo, dai-nos a Paz… – a voz do Trovador Solitário canta no vento um hino litúrgico, um sussurro intuitivo vindo do planalto dos candangos.


broadwayEm outro fuso-horário a mensagem é dispare. Na rua dos espetáculos, as luzes de néon brilham incessantemente, a fantasia está sempre pairando no ar, o som de buzinas e alto-falantes sobrecarregaram as moléculas da atmosfera.

As peças no tabuleiro de xadrez seguem um enredo de objetivo bem definido e propósito oculto, não há diferença entre bispos, cavalos, reis, rainhas ou peões, no fundo são todos joguetes na mão de um enxadrista que tem os olhos e ouvidos bem abertos, enquanto nós ainda estamos de olhos e ouvidos bem fechados.

– And the Lamb lies down on Broadway… – cantam atores multiuso com pás nas mãos, prontos para cavar uma cova rasa, cujo intuito é enterrar uma mensagem que não pode se calar, com vontade de sufocar um sentimento destinado a eternidade – E o Cordeiro jaz na Broadway… E o Cordeiro jaz na Broadway… E o Cordeiro jaz na Broadway… – eles repetem incansavelmente, pois sabem que assim conseguirão seus minutos de fama e notoriedade – And the Lamb lies down on Broadway…

– And the Lamb lies down on Hollywood… – atores multiuso com pás nas mãos, prontos para cavar uma cova rasa, cujo intuito é enterrar uma mensagem que não pode se calar, com vontade de sufocar um sentimento destinado a eternidade – E o Cordeiro jaz em Hollywood..E o Cordeiro jaz em Hollywood..E o Cordeiro jaz em Hollywood... – eles repetem incansavelmente, pois sabem que assim conseguirão seus minutos de fama e notoriedade – And the Lamb lies down on Hollywood…

hollywoodO tapete vermelho está estendido impecavelmente, os sorrisos forjados estão preparados, a antipatia está pronta para ser mascarada com acenos robóticos. Estes são garotos e garotas propagandas do enxadrista, sólidos por fora, despedaçados por dentro.

Eles são usados para vender uma novidade, um produto instantâneo, sentimentos congelados para consumir no microondas. A embalagem é fruto de marketing exaustivamente calculado, design moderno e clean, interface intuitiva e fácil de manusear, aroma agradável, artificialmente adoçado. O embrulho anuncia com letras garrafais: “amor”.

Em primeiro momento o sistema operacional não gera erro ou confusão, é o que há de mais avançado no mercado. O gosto é apetitoso, saboroso e viciante. Contudo, quando se usa exaustivamente e se consome até o osso, a novidade revela-se a cinzenta solidão, mostra-se como cinquenta tons de solidão.

– And the Lamb lies down… And the Love lies down… – gritam as vozes controladas pelo enxadrista, gritam em militância, gritam em uníssono, gritam em propaganda, gritam, gritam e gritam pois não podem calar, caso calarem a solidão os consome e estraçalha.

– Eu pedi numa prece ao Senhor um Amor Verdadeiro que é bom… – canta no vento a voz de uma nordestina, é uma súplica humilde, vinda do interior do sertão. O pedido solitário longe das megalópolis na realidade é o pedido que todos os corações do mundo estão suspirado – Eu pedi numa prece ao Senhor um Amor Verdadeiro que é bom…

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