Devotos celebram São Jorge com procissão e missas em Manaus

Devoção ao Santo reúne fieis de diversas religiões em tradicional procissão - Foto: J Ricardo/Agência Freelance

Nas primeiras horas da manhã desta segunda-feira (23), fogos de artifício anunciaram o dia de São Jorge, que é santo para os católicos e orixá para devotos da sacralidades afro-brasileiras. Diferenças a parte, devotos tomam as ruas de Manaus para celebrar e agradecer ao “santo guerreiro”, em um verdadeiro exemplo de tolerância e sincretismo religioso.


Várias atividades estão previstas para celebrar a data na paróquia do santo e em cerca de 400 terreiros na capital.

“Para nós é muito claro aquilo que deve ser feito, uma celebração eucarística. Na dimensão da procissão, é acolher o outro, que tem a sua maneira de expressar, vivenciar e renovar a sua fé. Cada ano que a gente vê a participação do nosso povo, as pessoas renovam sua fé e levam algo de novo.

Quando se fala de fé não é algo estático”, apontou o frei Agostinho.

Seguindo os passos de Cristo, católicos, umbandistas e candomblecistas caminham lado a lado em
Manaus. “A maneira de manifestar a fé, tem razões histórias, tem caminhada, respeitamos. São nossos irmãos que têm a sua maneira de expressar a fé e a gente se reúne para rezar. Unidos a favor daquilo que é de Deus”, defendeu o frei Agostinho.

Em mais de 700 de história, a fé fez com que o guerreiro Jorge tornasse santo e conquistasse admiradores em várias partes do mundo. O santo com capa vermelha e espada tornou-se Ogum, para os fieis das religiões afro-brasileiras do candomblé banto, Jeji e Nagô, umbanda, jurema, tambor de minam catimbó e terecó, explicou o Coordenador Geral da Articulação Amazônica do Povo Tradicional de Terreiro de Matriz Africana (ARATRAMA), o Sacerdote Hèvíòssòssí Alberto Jorge.

“Isso é uma das coisas mais bonitas que pode existir. Isso é cara de Brasil. Não foram os escravos que pediram para ser católicos. Eles foram obrigados a ser católicos. Eles tinha a sua religião e não quiseram abrir mão do que acreditavam, e fizeram um processo de adaptação pra sobreviver”, pontuou o Sacerdote Hèvíòssòssí Alberto Jorge.

As ferramentas de sobrevivência dos africanos, acabou por criar novos habitos em seus descendentes.
“Hoje temos o ‘povo da macumba’ acaba indo pra igreja católica rezar pra São Jorge e na volta vão para o terreiro comer feijoada de Ogum”, apontou Alberto.

Devoção ao Santo reúne fieis de diversas religiões em tradicional procissão – Foto: J Ricardo/Agência Freelance

O sacerdote Alberto Jorge diz que hoje se vê uma mistura de credos em uma ação de tolerância e amor.

Programação

Desde os primeiros dias da manhã, os católicos começaram a se mobilizar nas homenagens ao santo. Quem conseguiu acordar cedo e driblar a chuva, participou da primeira novena realizada as 5h45, seguida da missa as 6h.

Às 10h45 foi realizada a segunda novena em honra ao santo e, às 11h, foi celebrada a segunda missa do Dia de São Jorge.

Durante todo o dia haverá a igreja, no bairro que leva o nome do santo, estará aberta para receber os agradecimentos e pedidos.

A Grande procissão vai iniciar 18h no bairro de São Jorge, Zona Oeste de Manaus.

Os fiéis devem passar pelas ruas Vicente Torres Reis, José de Vasconcelos, 1º de Maio, Barão do Rio Branco, dr Edson Stanislau Afonso Santa Luzia, encerrando na rua A. Após a procissão, inicia a Santa Missa.

Os devotos também podem participar do tradicional arraial no pátio da paróquia, com venda de comidas, bebidas e do bingo.

Festivos nos terreiros

Todos os 400 terreiros, registrados pela Aratrama já iniciaram os preparativos para a noite de Ogum. Contudo, alguns resolveram adiantar as comemorações.

“Os terreiros começaram bater tambor desde sábado. Só ontem (22), aqui em Manaus 50 pontos ou mais de culto de celebração afro, jaq tinham feito a feijoada de ogum. Da pequena velinha acesa no pé da imagem, a preparação da feijoada, festa regada a muita comida e bebida. Temos hoje em toda Manaus mais de 200 pontos de celebração, fora da igreja católica”, apontou Alberto Jorge.

Em todo o país, fieis tomam as ruas em homenagem a São Jorge, o santo guerreiro que conquistou devotos nas mais variadas religiões em diversos cantos do mundo. Para o frei Agostinho, a popularidade de São Jorge se deve ao exemplo de vida e a fé em Jesus Cristo.

“Aquilo que é de Deus fica e aqui que não é de Deus tende a desaparecer e agente vê que ha mais de 2018 anos a mensagem de Jesus esta viva. A gente coloca isso com São Jorge no seculo 4. Ele se opõe a uma ordem em nome de Jesus. E se era para ter desaparecido o espírito daquilo que Jorge entendeu por Jesus e seu exemplo de vida, era para ter desaparecido. Mas são mais de 700 anos que São Jorge é presente na vida do povo”, disse o frei Agostinho.

Ele traz ainda a ideia da dicotomia que persegue a mente humana. “Ele é muito atual, as pessoas fazem relação entre o bem e o mal, que o São Jorge venceu o dragão, o mal. A dimensão do mal é presente no dia a dia, como a dimensão do bem também é. Realmente a devoção é muito forte, quem é São Jorge, é São Jorge se assume e pronto”, disse o Frei Agostinho.

Fonte: G1

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