Eles e nós

Luiz Lauschner Escritor e empresário

Sempre é bom saber o que os leitores pensam. Nosso artigo do dia 27 de maio recebeu alguns comentários que estimulam a continuar externando o pensamento. O leitor J.P.R. gostou da frase “…quando um governo eleito para todos estimula as diferenças que poderiam ser positivamente exploradas, está mostrando imaturidade.” Acrescentou que, quando alguém assume o governo precisa agir como tal. Não pode mais discriminar a ninguém, mesmo que tenha sido ferrenho adversário nas eleições e sim conviver com ideias contrárias de maneira isenta. “Explorar positivamente” as diferenças sem realçar uma eventual desigualdade é uma arte que o brasileiro sabe, ou deveria saber de berço. Basta observar a alta cúpula do governo para ver que é impossível fechar os olhos à riquíssima cultura que todos trazemos no próprio nome. Rousseff, Temer, Lewandowski, Zawadski. Jungmann, Raupp, Maluf, Silva, Cardoso, Palocci, Serra, Hakamoto são alguns sobrenomes de brasileiros cujos pais ou avós vieram de países distintos e que aqui chegaram ao poder sem discriminação. Todos “eles” representam o que somos “nós”, o povo brasileiro.


Há pessoas negras que dizem que ainda sofrem de discriminação no Brasil. Não contestamos isso, embora eles mesmos reconheçam que quase nunca ela é ostensiva. A discriminação velada pode ser tão ou mais perniciosa que a ostensiva. Infelizmente, levará mais um tempo até que isso desapareça. Ainda nos anos 1970 a segregação americana era muito latente, embora ilegal. Menos de quarenta anos depois, o país elege um negro para a presidência, não porque seja negro, mas porque mostrou ser igual a qualquer outro. Os Estados Unidos não elegeram Barak Saddam Obama por ser negro, assim como o Brasil não afastou Dilma por ser mulher. Os dois têm nomes fora do padrão para os dois países. Isso por si só não avaliza ninguém, nem jamais pode discriminar. Há necessidade de mostrar competência. Cultuar suas origens não é racismo, é cultura. Discriminação por qualquer motivo é odioso, mesmo que venha com o rótulo de “cultural”.

Morgan Freeman, ao ser entrevistado por um apresentador que fazia questão de dizer que era judeu, respondeu a pergunta “Que fazer para acabar com o racismo?” de maneira óbvia: “Parar de falar nele”. No ocidente há a falsa crença que devemos lembrar todo o dia os nossos erros para que não os voltemos a cometer. A sabedoria oriental nos ensina que, para não manter a chama acesa, não devemos tocar no assunto. O talentoso negro Morgan Freeman não é respeitado por sua cor, mas por sua atuação. Da mesma maneira que não interessa ao telespectador saber a origem nem a crença de um entrevistador. Aliás, Freeman apenas expressou o sentimento da maioria que quer bons serviços sem olhar para a pele, convicção religiosa, tendência política ou sexual de quem os presta.

Foram cometidos erros no passado? Muitos erros coletivos, individuais, conscientes ou não. Em menor escala, muitos erros continuam a ser praticados. Contudo, hoje existem leis que proíbem discriminações de qualquer espécie. Os radicalismos e os fundamentalismos precisam esmorecer até desaparecerem. Há grupos que, depois de conquistarem a igualdade lutam por sua superioridade. É necessário que aprendamos a lição da história. Se todos quiserem cobrar sua conta voltaremos ao início. Não há como não tomar o exemplo do término da segunda grande guerra. Vencedores estendendo a mão aos vencidos para todos trilharem o caminho do sucesso. O resultado fala por si só.

Eles também são nós.

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