
A Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), unidade vinculada à Secretaria Estadual de Saúde (Susam), dará início nas próximas semanas à segunda fase de uma pesquisa inédita no mundo, que pretende identificar fatores genéticos relacionados a falhas e efeitos colaterais do tratamento da Tuberculose. O objetivo é apontar novas alternativas para o controle da doença. A Tuberculose é considerada um problema de saúde pública. Junto com o HIV, é responsável pelas principais causas de morte entre as doenças infecciosas, no mundo.
A pesquisa, que começou com a coleta de amostras em 2016, entra agora na fase de análise desse material. O projeto, denominado de Pesquisa Regional Prospectiva e Observacional em Tuberculose (RePORT-Brasil), reúne especialistas de instituições do Brasil, Índia, África do Sul, Indonésia, China e Rússia. O Brasil é o primeiro país a iniciar a segunda fase do projeto.
Junto com a FMT-HVD, participam do estudo no Brasil, a Fundação José Silveira (FJS), de Salvador, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-RJ), Secretaria Municipal de Saúde do RJ e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em Manaus, a pesquisa é conduzida por um grupo de pesquisadores da FMT, formado por médicos, enfermeiros, biólogos, bioquímicos e biomédicos.
De acordo com o coordenador da pesquisa na FMT-HVD, Marcelo Cordeiro, a primeira fase do projeto foi dedicada à coleta de amostras de sangue, urina e secreções respiratórias, em pacientes e pessoas próximas aos pacientes. As amostram foram armazenados em um biorrepositório na FJS. “Na FMT, já foram coletadas informações e amostras de 200 pacientes, entre eles pessoas próximas do doente”, destacou. O estudo pretende incluir 3.600 indivíduos no Brasil.
Cordeiro explica que, a partir de agora, essas amostras serão analisadas. A previsão é que os estudos se estendam por mais dois anos, período em que os pacientes serão acompanhados. Algumas questões a serem observadas são: se pessoas próximas adoeceram, por que os diabéticos desenvolvem mais a doença e como a Tuberculose evolui em pacientes com HIV. “São questões que, em geral, não se consegue ter respostas em apenas seis meses, que é o tempo mínimo de tratamento da Tuberculose. É preciso um estudo mais aprofundado, como este que está sendo feito”, afirmou.

Marcelo Cordeiro ressalta que, a longo prazo, o que se espera é que essas pesquisas possam indicar novos tratamentos contra a Tuberculose, mais eficazes no combate aos problemas identificados. E, também, novos exames (testes genéticos) que possam indicar, antes mesmo de o paciente iniciar a medicação, a resistência da bactéria ao tratamento.
Experiência – A FMT-HVD vem acumulando ao longo dos anos expertise na área de Tuberculose. Junto com instituições do Rio de Janeiro, a FMT coordenou os estudos que possibilitaram a adoção, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), do teste rápido molecular de diagnóstico de Tuberculose – o GeneXpert. A nova tecnologia passou a ser utilizada em 2015. “Esse foi o primeiro estudo multicêntrico que a FMT participou nessa área e que nos inseriu no cenário nacional e internacional de pesquisas relacionadas à Tuberculose”, disse a diretora-presidente da instituição, Graça Alecrim.
Segundo a diretora, desde 2011, quando foi criado um grupo de pesquisa específico para estudar a Tuberculose, a FMT tem se destacado como uma das instituições mais atuantes nessa área. Atualmente, 7 projetos de mestrado e 3 de doutorado estão sendo conduzidos em Tuberculose na instituição.