Instituto avalia produção agrícola e a agrobiodiversidade no Médio Solimões

Foto: Raimundo Pereira

Desde 2015, a pesquisadora do Instituto Mamirauá, Júlia Ávila, trabalha em um projeto de etnografia da produção agrícola na região do Médio Solimões, no Amazonas. O foco do trabalho tem sido investigar as práticas agrícolas e padrões de agrobiodiversidade no contexto de mudanças econômicas e climáticas em comunidades ribeirinhas das Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã. A ideia central da pesquisa consiste em perceber as semelhanças e diferenças das práticas agrícolas em dois dos principais ecossistemas da Amazônia: várzea e terra firme. Atualmente, o estudo abrange 5 comunidades desses dois ecossistemas.


No momento, a pesquisadora da unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) analisa a resiliência dos sistemas sócioecológicos. “A ideia é analisar essa capacidade que as comunidades locais apresentam de se adaptar diante das mudanças que vão acontecendo”, afirma Júlia Ávila.

Para isso, a pesquisadora avalia outros aspectos além da agricultura. Para o desenvolvimento da pesquisa, ela realiza atividades com famílias de agricultores das duas unidades de conservação. Uma delas consiste em construir uma linha do tempo com a ajuda dos comunitários. “Nessa atividade, os moradores identificaram os períodos de cheia e secas extremas que recordam”, explicou Júlia. Além disso, os participantes realizaram um mapeamento participativo e construíram um calendário, no qual indicaram as atividades sazonais desenvolvidas por eles e como enxergam o clima da região.

O estabelecimento da agricultura como uma fonte de renda para a população local é uma das preocupações da pesquisa. “A ideia é que a gente possa pensar em estratégias para fortalecer a prática da agricultura e torná-la uma fonte de renda segura para eles, mesmo diante dos atuais contextos de mudanças, além de garantir uma alimentação mais diversificada e estimular o desenvolvimento sustentável da região”, afirmou a pesquisadora.

Foto: Raimundo Pereira

Os dados adquiridos subsidiam as ações de extensão e assessoria técnica prestada pelo Instituto Mamirauá aos agricultores da Reserva Mamirauá e Amanã com o objetivo de difundir a importância da agrobiodiversidade e do manejo tradicional agrícola em um cenário de mudanças climáticas.

Fogo em foco na Boa Esperança

Distante aproximadamente 120 km do município de Tefé, a comunidade Boa Esperança, localizada na Reserva Amanã, se destaca com uma grande produção de frutas. Por esse motivo, em 2016, os moradores do povoamento receberam uma usina de beneficiamento de polpa de frutas. A iniciativa foi implementada pelo PMA do Instituto Mamirauá com a finalidade de ajudar os agricultores na conservação da floresta, geração de renda e melhoria da qualidade de vida dos comunitários. Mas nem tudo são flores na Boa Esperança. Incêndios descontrolados atingiram áreas agrícolas e florestais, posteriormente a uma alagação extrema no ano de 2015, gerando consequências na produção agrícola local.

Para os comunitários, que praticam tradicionalmente a agricultura migratória, o fogo é uma importante ferramenta para incorporar nutrientes no solo. O aumento da incidência dos incêndios se justifica pela maior quantidade de vegetação seca encontrada após a redução do nível da água. Nessa área é comum encontrar o “cauixi”, apontado como comburente. No estudo, Júlia busca descobrir os efeitos dos eventos das cheias extremas na agrobiodiversidade e na maior ocorrência de incêndios descontrolados, a fim de contribuir com novas alternativas para lidar com a problemática.

Foto: Raimundo Pereira

1° Feira de Troca de Sementes das reservas Mamirauá e Amanã

Também através desse estudo de campo, a pesquisadora percebeu a importância de facilitar o compartilhamento e estimular o aumento da agrobiodiversidade local. Em 2018, as Assembleias Gerais das Reservas Mamirauá e Amanã receberam a primeira edição da “Feira de Troca de Sementes”. De acordo com Júlia, o evento deverá acontecer anualmente. “Foi um momento que aproveitamos para discutir a importância de facilitar as trocas e o acesso à diferentes espécies de plantas. Falamos principalmente de espécies alimentícias, mas os participantes também ressaltaram a importante de espécies madeireiras e medicinais”.

Para Irene dos Santos, moradora da comunidade São Francisco das Mangueiras da RDS Mamirauá, o momento proporcionou uma troca de experiência importante. “Foi muito bom poder passar o que eu sei sobre o plantio para as pessoas presentes aqui. Acho muito importante trazer isso para assembleia porque assim difundimos o conhecimento na região. Espero que na próxima edição as pessoas tragam mais sementes”, disse a comunitária.

Artigo anteriorBosco Saraiva é ‘retirado’ da presidente do SDD e candidatura ao senado é incerta
Próximo artigoNovo titular da Secretaria de Inspeção do Trabalho toma posse

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui