
Com a pandemia, grandes empresas precisaram deixar os arranha-céus que os profissionais costumavam visitar diariamente para o trabalho remoto
Agora, sentindo a necessidade de fomentar uma equipe unida e fortalecer a produtividade dos times, o retorno gradativo ao presencial se mostra presente, e com esse movimento o mercado corporativo está experimentando as possibilidades e vantagens dos escritórios flexíveis.
Em São Francisco (Califórnia, EUA), a taxa de escritórios fixos desocupados antes da pandemia era de quase zero. Agora, os níveis de desocupação aumentaram para 31,8%, segundo a imobiliária CBRE. No centro de Londres, os edifícios não estão tão vazios, mas a taxa de desocupação atual — de 9,4%, segundo a imobiliária JLL — é quase o dobro da média histórica de 5,5%. E é claro que no Brasil também observamos esse movimento. Dados divulgados pela SiiLA revelam que quase um quarto dos escritórios de alto padrão em São Paulo permanecem vazios. O levantamento trimestral indica que 24,35% das lajes em edifícios A+ e A estavam desocupadas até ao final de 2023.
Ao analisar o custo por posição “ocupada” dos nossos clientes, mesmo em regiões afastadas dos grandes centros, muitas vezes nos deparamos com um custo maior do que os aluguéis da Faria Lima com uma ocupação adequada. Essa ineficiência vem sendo reduzida com a migração de sedes regionais para escritórios privativos dentro de coworkings com infraestrutura adequada e dimensionamento mais alinhado à ocupação real. Esse benefício é ainda maior quando a eficiência ocorre em áreas de maior valor por m2 como Faria Lima, Paulista, Berrini em São Paulo ou Zona Sul do Rio.
De acordo com o dados divulgados pelo Censo Coworking 2024, dirigido pela Woba, o Brasil testemunha um crescimento robusto de aproximadamente 20% no número de espaços de coworking, aumentando de 2.443 para 2.986, com 58,5% desses espaços localizados nas capitais consideradas centros de inovação e negócios, como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Segundo o Censo, a adoção desses espaços contribui para a economia significativa de até 50% em custos de infraestrutura e a facilidade para escalar operações, principalmente em outras localidades. Essa migração proporcionou um aumento de 11% no faturamento anual médio dos espaços, destacando a magnitude do mercado, que agora registra um faturamento anual de mais de R$1 bilhão.
Além disso, um benefício adicional da migração do modelo tradicional para o flexível, é o direcionamento do capital para empreendedores que geram empregos e que transformam e impulsionam as regiões onde atuam. Muitas companhias têm demandado operadores de coworking para ocupar parte dos seus imóveis ou até locais completos que estão ociosos e que possuem multas altas para devolução.
Nesse formato, ainda é possível concentrar todos os serviços em um só fornecedor, e a gestão fica sob responsabilidade de um operador com vasta experiência e cujo core business é administrar escritórios. Na cobrança são incluídos valores de locação, água, energia, internet e demais serviços que se deseje contratar, como limpeza e recepção, por exemplo. Isso vale não só para sedes, mas também em múltiplos escritórios regionais em escala nacional e até internacional. Nesse caso, as organizações otimizam a gestão de facilities, ajudando o dia a dia do gestor com mais eficiência
Quando paramos para observar os números, essa realidade fica ainda mais evidente: algumas companhias já chegaram a reduzir R$3 milhões ao ano o investimento em real estate, e outras, se alocaram em um espaço com o dobro do tamanho dos escritórios anteriores pelo mesmo investimento. É inegável que ao entrar nesse formato, dificilmente as empresas buscam novamente voltar ao que já é conhecido no mercado. É importante dizer ainda que, enquanto, tradicionalmente, os escritórios de prestígio estavam concentrados em áreas centrais e de alto custo, os coworkings estão presentes em diversas regiões das cidades, incluindo também as emergentes, permitindo um crescimento mais alinhado à distribuição dos colaboradores da empresa nas suas cidades.
Fica cada vez mais claro que o m² mais caro não é o da Faria Lima, mas sim o ocioso. E essa ociosidade ocorre não apenas nas sedes, mas em vários escritórios regionais espalhados pelo Brasil. Os espaços de coworking estão desafiando a lógica convencional do mercado imobiliário, oferecendo uma alternativa acessível para empresas e profissionais que buscam maximizar seu investimento enquanto aumentam a frequência dos encontros presenciais. Nessa jornada de mudança, as equipes de facilities têm um desafio e papel fundamental dentro das suas empresas: mostrar aos seus “clientes” internos que existe uma nova classe de ativos que pode atender as demandas das equipes distribuídas com qualidade e eficiência em qualquer lugar do Brasil.
Marco Crespo é formado em Engenharia pela Universidade Estadual de Campinas e MBA em Harvard, Marco Crespo atuou como CEO Brasil, Latam e EUA no Gympass, agora Wellhub. Marco também conta com passagens pela Yalo, Instituto Ayrton Senna e Boston Consulting Group. Como investidor e conselheiro de empresas early stage, Marco já aportou em diversas startups. Em 2023, se juntou ao time de fundadores como sócio e COO da Woba, maior rede de escritórios flexíveis da América Latina.