O outro lado da crise

Luiz Lauschner Escritor e empresário

Crises existem em setores públicos, em empresas privadas e até em relacionamentos pessoais. As origens de uma crise podem ser várias, mas o importante é sempre achar uma saída. Esta saída muitas vezes é ditada pelo aprendizado que a própria nos traz. A crise institucional brasileira é ainda maior que a que gerou o golpe militar em 1964.  A intervenção militar foi a “saída” encontrada na época e hoje novamente apregoada por alguns. Claro que estes que falam em militarismo não têm muita noção do que seja isso.


O que podemos aprender? Numa época de vendas aceleradas, muitos produtos não merecem uma atenção especial porque vendem de qualquer jeito. Em épocas de recessão, há um enxugamento na máquina produtiva. Infelizmente, este enxugamento passa por demissões e todo o efeito dominó que isso gera. Alguém que fica sem renda atrasa prestações, não faz nenhuma reforma, nem manutenção, em sua casa, deixa de ir a restaurantes, tira o filho da escola particular e sai de casa apenas para o mínimo necessário. Enfim: ajuda a travar a roda da economia.  As empresas também ficam apenas com o pessoal que melhor se adapta a esta situação.

Por outro lado, é época de rever muitas coisas. Dentro de fábricas, muitos projetos que estavam em compasso de espera começam a receber atenção maior. Um novo produto sempre pode ajudar a vender. Um velho produto pode receber nova roupagem e inovação tecnológica. Mecanismos de acelerar a produção, o tal chamado ganho de produtividade, é estudado e testado à exaustão. Novos fornecedores e novas matérias primas são pesquisados com afinco.  Afinal, há tempo de sobra para estudar muitas coisas. Tudo para oferecer um bom produto a preço que se adapte ao consumidor depauperado e garanta a sobrevivência da empresa.

Os chamados “bens duráveis” como móveis, eletrodomésticos e veículos são os que recebem a maior carga de melhoria em época de crise. Mas não são os únicos.  Na área de serviços isso também acontece. As oficinas de reparo de veículos aumentam seu faturamento, uma vez quefalta dinheiro para a compra do carro novo. Os restaurantes mantêm os preços e fazem promoções uma vez que os clientes estão espaçando cada vez mais as suas visitas. Enfim, soluções criativas e baratas são bem vindas nesses tempos.Como diz um velho ditado, em época de crise há dois tipos de empresários: os que choram e os que vendem lenços.

Existe a possibilidade de sair fortalecido numa crise? Há setores que não se abalam, como os bancos que sempre ganham nas renegociações de dívidas com seus clientes;Há outros que solidificam meios de produção e, numa eventual retomada de crescimento, estarão mais aptas embora enfraquecidas financeiramente; Há os espertos que conseguiram fazer aquisições a preços baixos e terão ganho de capital; Há os que culpam aos outros como se achar os culpados os ajudasse a superar os momentos difíceis.

A diferença agora é que o governo está com a credibilidade tão baixa que não é o motivador natural para fazer o povo superar a turbulência. Em outras palavras: o governo tem apenas a máquina paquidérmica que pode e deve ser usada, mas nenhuma liderança motivacional tão necessária para mudar o ânimo da população. O povo que votou no governo há menos de um ano já estava desmotivado na época. A guinada de 180 graus entre o discurso da campanha e os atos administrativos geraram uma crise de confiança que precisa ser superada para que a crise econômica e financeira também seja suplantada. Estamos no centro de um grande problema. O momento exige calma e criatividade para o resolvermos.

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