O que é esclarecimento? – por Carlos Santiago

Carlos Santiago é Sociólogo, Analista Político e Advogado

Sempre deliciosa e reflexiva a leitura da obra “O que é esclarecimento?” do filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804) para entendimento do Brasil de sempre. A filosofia Kantiana rompeu com o pensamento escolástico tradicional que guiava as ações humanas por meio da moral religiosa e das tradições, onde tudo é pré-determinado e nada pode ser mudado. Ele coloca o homem como sujeito pensante autônomo, capaz de decidir com liberdade a melhor forma agir, livre de amarras ou de tutelas, levando em consideração a ideia de universalidade, sem qualquer imposição.


Para Kant, a liberdade de pensamento se dá pelo uso da razão. Explica que o esclarecimento é “a saída do homem da sua menoridade”, a qual ocorre por meio do uso do saber, significa fazer uso da própria razão a partir do entendimento das coisas. Trata-se que adquirir autonomia que ocorre a partir do momento em que o ser humano é capaz de seguir a sua própria razão, seu próprio entendimento e deixa de viver da vontade e de decisões do outro, além de se desvencilhar da heteronomia e deixa de ser tutelado.

O filósofo afirma que o esclarecimento nos coloca diante de opções que permitem tomar a melhor decisão, um livre-arbítrio, mas é preciso questionar e duvidar para explorar novas alternativas e não seguir o que é posto como único e acabado.

Na concepção de Kant existem limitações que impedem o esclarecimento e outras que favorecem o esclarecimento. Isso se explica mediante o entendimento de uso público da razão e uso privado dela.

No uso público da razão o pensar deve ser sempre livre, sem limitações e qualquer homem pode exercer. Age-se pelo uso próprio, livres de preceitos estabelecidos e determinados, visa à universalidade entre os homens, mediante favorecimentos de todos e não de grupos. O uso público conduz ao avanço e ao progresso do esclarecimento, tira homem da menoridade e, por conseguinte, alcançar a maioridade, o uso pleno da razão.

Já o uso privado da razão, dá-se mediante limitações na medida em que age sob limitações, obedecendo a regras e leis que visam assegurar a existência de grupos ou de instituições que são criados com objetivos específicos para se chegar a determinados fins. Para alcançar essa finalidade é preciso obedecer, tem-se que cumprir a certos protocolos convencionados socialmente, ou seja, no uso privado da razão coloca o indivíduo diante de limitações quando ele está sujeito ao cumprimento de leis e regras que sustentam a existência de grupos, contudo, o uso privado da razão não pode impedir ou tolher o uso público da razão.

Para Kant, o esclarecimento pode ser adiado, mas não renunciado. No uso privado é preciso ter espaço para expor o pensamento, mesmo que seja diferente, pois o pensamento único é prejudicial à humanidade e não leva ao esclarecimento que é tão importante para arrancar o homem da servidão.

Depois da leitura de Kant, é até possível consolidar a ideia de que as pessoas ainda são conduzidas por crenças e valores pré-estabelecidos. É preciso avançar muito no país. Precisamos de pessoas livres, de debates públicos, de reflexões e do exercício da razão na hora das escolhas e do agir.

Carlos Santiago é Sociólogo, Analista Político e Advogado

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