Ponte ligando Amapá e Guiana Francesa está abandonada, diz Le Monde

A edição desta segunda-feira de um dos jornais de maior circulação no mundo, o francês Le Monde traz uma reportagem de duas páginas sobre um sonho que se converteu em pesadelo: a construção de uma ponte que ligasse o Brasil à França, a América Latina à Europa, cruzando o rio Oiapoque entre o estado do Amapá e a Guiana Francesa.O projeto foi acordado nos anos 90 entre os então presidentes da França, François Mitterand, e do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, as obras começaram em julho de 2009 e concluídas, com atraso, dois anos depois. Desde então, este ‘elefante branco’, como define o ex-deputado estadual Paulo José (PTC-AP) entrevistado pelo jornal, acumula musgo enquanto a população continua cruzando o rio em balsas cujas passagens custam R$ 15. O ambicioso projeto binacional, orçado em cerca de € 30 milhões (aproximadamente R$ 30 milhões), nunca foi inaugurado.


 
Do lado guianense, a primeira reação foi o medo de uma explosão migratória: “antes mesmo da abertura, entre 20 mil e 40 mil brasileiros se instalaram na Guiana – mais da metade imigrantes ilegais”, escreve o correspondente Nicolas Bourcier, acrescentando que o número equivale a algo entre 10% e 20% da população da colônia francesa.

Em segundo lugar, desde que foi idealizada, a ponte foi alvo de uma série de críticas de associações locais, que denunciaram a falta de consciência ecológica da obra, na qual a União Europeia não quis investir um único centavo.

Antes mesmo de iniciados os trabalhos, já se previa a derrubada de 900 hectares de floresta primária. Um comitê científico exigiu, como contrapartida, a construção de um corredor de vegetação que, rapidamente, se converteu em um ponto de caça ilegal.

Garimpo ilegal
Outro problema que ocorre na fronteira é a exploração ilegal e o tráfico de ouro. “Durante os anos 2000, estima-se que duas e três toneladas anuais de ouro foram extraídas na Guiana e exportadas ilegalmente para o Amapá. Menos da metade foi declarada à alfândega brasileira no Oiapoque, onde o governo impõe taxa de apenas 1%”, revela o jornal.

O vespertino francês destaca que essa atividade preocupa tão pouco as autoridades brasileiras que só em dezembro de 2013 – quando o chefe do Estado francês visitou o Brasil -, o Congresso Nacional votou deputados votaram uma lei contra o garimpo ilegal, uma das condições impostas pela França para a abertura da ponte.

Para piorar, o projeto entrou no ostracismo por conta de pautas mais urgentes na agenda bilateral, como a novela da venda dos caças Rafale franceses à Força Aérea Brasileira que, no fim das contas, nunca se concretizou. Paulo José informou à reportagem do Le Monde que ainda faltam R$ 400 milhões para a conclusão dos serviços no entorno da ponte, como a construção da alfândega, considerado como imprescindível para a inauguração da ponte.

(Diário do Amapá)

 

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