Primos que perderam os braços resgatando pipa viram fenômenos paralímpicos

Samuca e Tiago Oliveira, primos e medalhistas da natação paralímpica - Foto: Guilherme Yoshida/CPB

A Ilha da Madeira, terra de Cristiano Ronaldo, viu nascer esta semana um candidato a astro do esporte. No caso, da natação paralímpica. Em seu primeiro Campeonato Mundial, com apenas 16 anos, o caçula da seleção brasileira, Samuel Oliveira, já ganhou cinco medalhas, sendo três de ouro, e entra na água hoje (17) em busca de mais uma. E ele está acompanhado nesta jornada por um primo, Tiago Oliveira, seu colega e rival na classe S5, com quem dividiu o pódio nos 200m medley.


Os dois tiveram os dois braços amputados em 2015, porque participaram juntos de uma peripécia. Samuca, então com nove anos, foi passar as férias na casa do pai, em Campinas, e em uma tarde ele e Tiago viram uma pipa caída em uma árvore. Subiram no segundo andar da casa, onde encontraram uma barra de ferro. Penduraram-se os dois em um parapeito para tentar puxar a pipa.

As quatro mãos seguravam a barra quando o objeto encostou na rede elétrica, e eles tomaram um choque de 13 mil volts. Por consequência do acidente, ambos tiveram os braços amputados. Tiago ainda precisou ser internado em um hospital especializado em queimaduras, onde ficou quatro meses.

Mas foi por causa do acidente que Samuca, que não sabia nadar, passou a gostar de ficar na água. “Eu fazia tratamento na AACD, em São Paulo, e fazia fisioterapia na água. Depois de uns meses, eu só queria ficar brincando na água. Como eu não sabia nadar antes de perder os braços, eles me apresentaram para dois professores de natação, que foram meus primeiros técnicos”, conta o garoto, que, aos 12 anos, passou a treinar no CT Paralímpico.

Tiago teve contato mais tardio com o esporte, porque além dos quatro meses internado em Bauru (SP), com queimaduras sérias nas pernas, ainda ficou mais de um ano em tratamento, sem nem pensar em entrar na água com cloro. Quando foi liberado, seguiu o exemplo do primo e passou a procurar um lugar para aprender a nadar em Campinas.

“Meu pai foi atrás dos clubes da região, mas ninguém queria me ensinar a nadar, diziam que não tinham especialização. Aí nisso passaram o contato para ele de um moço que era presidente da Associação Paralímpica de Campinas, que foi o clube onde eu comecei a nadar”, lembra. Por ser mais velho, foi ele quem teve bons resultados primeiro, entre os primos.

Quando veio a pandemia e as piscinas fecharam, Samuca logo pôde voltar a nadar no CT Paralímpico, que reabriu para atletas que buscavam índice para os Jogos Paralímpicos, caso dele, que só tinha 14 anos. Mas Tiago ficou mais de um ano sem cair na água em Campinas. O primo mais novo passou o mais velho.

No começo deste ano, os dois foram convidados a treinarem em Uberlândia (MG), defendendo o Praia Clube, instituição que hoje mais investe na natação paralímpica de alto rendimento. Os primos que antes se encontravam apenas eventualmente passaram a morar na mesma cidade e nadar na mesma piscina. E, juntos, se classificaram para o primeiro Mundial deles, apesar de Tiago estar em recuperação de uma lesão no joelho.

Na Ilha da Madeira, os primos foram juntos ao pódio dos 200m medley, na quinta, com Samuel em segundo, com a medalha de prata e o tempo de 2min59s25, e Tiago com o bronze, com 3min15s01. Para o mais velho, foi a despedida da competição depois de dois sextos lugares, nos 50m costas e 50m borboleta, justamente as duas provas individuais vencidas pelo mais novo. Na segunda, ele é recordista das Américas.

A antiga melhor marca era de Daniel Dias, astro da natação paralímpica que também nadava na classe S5 e que se aposentou depois de Tóquio-2020. Natural que uma enorme expectativa seja jogada em Samuca, que se acostuma com a ideia.

“Acho que é questão de tempo, de acostumar, de saber lidar com essa nova etapa da minha vida. Pra mim é uma conquista muito grande, estar representando o Brasil desse jeito. A gente já é uma inspiração para pessoas que tem deficiência, sofreram acidente. De nunca desistir, deixar as coisas para trás. Isso é o mais importante.”

Uol

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