Tragédia de Brumadinho aconteceu por culpa de perfurações feitas pela Vale, conclui a PF

Foto: divulgação

A realização de perfurações verticais foi o gatilho para a liquefação que provocou o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, em 2019.


O laudo sobre a causa da tragédia, que deixou 270 pessoas mortas, foi apresentado nesta sexta-feira (26) pela Polícia Federal (PF).

De acordo com a PF, a Vale contratou, em outubro de 2018, uma empresa para identificar as condições de resistência de diferentes seções da barragem, construída em 1976 e adquirida pela mineradora em 2001. A parte mais baixa da estrutura era composta por um material mais fino, de baixa capacidade de suporte e, portanto, mais frágil.

A empresa contratada entregou à mineradora um diagnóstico em dezembro do mesmo ano, mas, antes de processar e analisar os resultados, a Vale deu início a perfurações verticais na barragem.

A mineradora tinha dois objetivos: complementar a investigação geotécnica iniciada pela contratada para identificar os materiais de cada ponto da estrutura e instalar novos instrumentos de monitoramento.

“Esse trabalho começou ainda em dezembro, antes de as informações da primeira campanha serem processadas, e esse foi o erro. É como se a pessoa fosse fazer um exame de imagem e não entregasse o resultado ao médico para análise”, diz o delegado responsável pelas investigações, Luiz Augusto Pessoa Nogueira.

A empresa começou a perfurar uma área crítica da barragem cinco dias antes da ruptura. Em 25 de janeiro, quando o rompimento ocorreu, o trabalho atingiu o ponto mais frágil, a 68 metros de profundidade, o que gerou uma onda de liquefação.

“A perfuração induziu uma pressão de água de forma pontual em um ponto da barragem que era muito sensível, o que dobrou a pressão naquele ponto. Esse ponto sensível se rompeu por liquefação, que se propagou por toda a barragem. A liquefação funciona dessa forma: basta que um ponto se rompa para que o processo seja desencadeado”, explica o perito criminal federal Leonardo Mesquita de Souza, responsável pelo laudo.

Segundo ele, os piezômetros, instrumentos de monitoramento instalados na barragem, não identificaram o processo de liquefação, que ocorreu de forma muito rápida. Foram 30 segundos até o rompimento da estrutura.

“Os piezômetros estavam sendo lidos de cinco em cinco minutos, e a última leitura, feita três minutos antes da ruptura, não mostrou nenhuma anomalia. Ou seja, a liquefação se processa de maneira tão rápida, que se formou 30 segundos antes da ruptura. Os instrumentos não conseguiram captar”, explica o perito criminal federal Leonardo Mesquita de Souza, responsável pelo laudo.

De acordo com o perito, em uma barragem com condição de estabilidade aceitável, uma perfuração não seria suficiente para provocar o rompimento.

“Só que a condição de estabilidade dessa estrutura era marginal, abaixo da aceitável pelas normas, era um fator de segurança muito próximo da ruptura. A estrutura em si, de maneira geral, era frágil”, afirma.

Em setembro de 2019, a PF indiciou sete funcionários da Vale e seis da consultora TÜV SÜD por falsidade ideológica e uso de documentos falsos. As duas empresas também foram indiciadas.

Conforme a corporação, funcionários das duas empresas celebraram contratos utilizando informações falsas contidas nos documentos de Declaração de Condição de Estabilidade (DCE), que permitiram que a barragem seguisse funcionando mesmo com critérios de segurança abaixo dos recomendados.

De acordo com a PF, a partir do laudo pericial apresentado nesta sexta-feira, novas diligências serão realizadas. As investigações continuam, e ainda não há definição sobre possíveis indiciamentos.

Hipóteses descartadas

A PF refutou outras hipóteses que buscavam explicar o gatilho da liquefação, inclusive a levantada pela Vale.

Um painel de especialistas da área de geotecnia contratado pela mineradora concluiu que o próprio peso do reservatório, em condição não drenada, gerou pequenas deformações que, em combinação com fortes chuvas, provocou o fenômeno.

“Vimos no exame da piezometria que não havia condição não drenada, a condição da barragem era drenada. Identificamos também que, anos antes, as chuvas foram bem mais severas, não houve essa condição extraordinária de chuvas em 2018”, diz o perito Leonardo Mesquita de Souza.

A PF também descartou a hipótese de que uma detonação em mina próxima teria desencadeado a liquefação.

“A mina mais próxima, que era a do Feijão, estava a uma distância aproximada de 1,5 km da barragem e recebia detonações duas vezes por semana. Foi identificado que as detonações não produziam vibrações suficientes para causar uma perturbação dos rejeitos”, afirma o perito.

As investigações também afastaram a possibilidade de elevação da pressão d’água interna ao maciço da barragem – a pressão, na realidade, estava diminuindo ao longo do tempo.

O que diz a Vale

Procurada para comentar a conclusão da PF, a Vale disse que “tomou conhecimento nesta sexta-feira (26) da expedição do laudo da perícia técnica da Polícia Federal sobre as possíveis causas do rompimento da Barragem I, da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG)”.

A empresa informou que “avaliará o inteiro teor do laudo e oportunamente se manifestará nos autos por intermédio de seu advogado David Rechulski.”

Fonte: G1

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