ZFM, ciência e tecnologia o maior gargalo – Por Osiris Silva

Economista Osiris Silva (AM)

Em entrevista à revista Veja (páginas amarelas) de abril de 2016, Marcelo Viana, diretor geral do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), ao analisar cortes nas já minguadas verbas alocada à estratégica Pasta da Ciência e Tecnologia, admite que terá de frear gastos, porém, afirma, continuará “a preservar a excelência que levou o Impa ao topo mundial e à conquista da medalha Fields, o Nobel da matemática, investindo no que faz do Instituto o que é: um celeiro de cérebros de dentro e de fora do país”.
Segundo Marcelo Viana, “a atividade científica não pode ser ligada e desligada por tempo ilimitado”. Trata-se de um projeto de longo prazo, “que exige continuidade para que o conhecimento se acumule, avance e seja transmitido de uma geração a outra”. A ciência brasileira, observa Viana, “vem perdendo recursos nos últimos anos, o que torna mais difícil atrair jovens cérebros, estimulá-los e mantê-los atuantes aqui. O Brasil ergueu sua base científica com gigantesco atraso em relação a outros países, inclusive os da América Latina. Em cinquenta anos chegamos a um patamar razoável. Meu alerta é que é muito mais fácil destruir do que construir um sistema. E demolir a ciência de um país significa subtrair suas chances no jogo global.”


Economista Osiris Silva (AM)

Viana está convicto de que “o caminho para a academia brasileira é depender menos dos cofres públicos, encontrando maneiras de se conectar cada vez mais com o mundo privado, prática comum nos Estados Unidos e na Europa.” Uma lição que se aplica perfeitamente à realidade universitária e de pesquisa brasileira e amazônica. “A cultura americana e europeia vê as instituições de ensino como parte do sistema produtivo de seus países. No Brasil, um abismo legal e ideológico separa o mundo universitário do empresarial, com claro prejuízo para ambos os lados, que pouco se falam.”, ressalta Marcelo Viana. Por isso o país é tão inexpressivo no ranking mundial da ciência, tecnologia, inovação e de patentes.

Sem dúvida, esta incômoda realidade tanto aflige o setor industrial brasileiro, quanto o Polo Industrial de Manaus (PIM), o campo da bioeconomia e da biotecnologia na Amazônia.  Conforme bem observa o diretor do IMPA “nem o setor produtivo vai à universidade procurar ajuda, nem a universidade enxerga como missão prestar serviços ao setor produtivo. Um contrassenso”. A experiência internacional mostra que nos países líderes da corrida tecnológica (Estados Unidos, Alemanha, Japão, China, Coreia do Sul, dentre outras potências), este tem sido um casamento prolífero, fértil. E irreversível.

As lições do matemático Marcelo Viana dão importantes pistas quanto aos caminhos a serem trilhados rumo a 2073. Governo do Estado, Suframa, Embrapa, universidade, centros de pesquisa e classes empresarias têm pela frente, no momento em que a ZFM completa 50 anos, desafios nitidamente delineados, concisamente expostos devido às falhas estruturais e os equívocos políticos decorrentes de inadequada administração do modelo desde 1967, quando tudo começou.

Neste meio século decorrido, o “modelo de desenvolvimento” não cumpriu nem de longe os objetivos e metas estabelecidos no DL 288/67, que o instituiu. As fragilidades se multiplicam. De um ponto fundamental estou seguro: corrigir os erros e os desvios não depende de voluntarismos nem de ações isoladas. Mas, de decisões conjuntas, integradas, ordenadas e convergentes que busquem o ajuste da política de incentivos e dos programas governamentais às exigências tecnológicas, logísticas e de mercado hoje vigentes. Neste esforço, requer-se dispensar máxima atenção à reforma tributária, que, sem muita demora, logo voltará ao debate no Senado Federal. E desta vez para valer. Urge que o governo do Amazonas, Suframa, FIEAM e CIEAM estejam devidamente preparados para uma batalha duríssima, sem quartel, na qual estarão envolvidos, insolitamente, apenas dois lados: o conjunto dos estados brasileiros contra a ZFM.(Osíris Silva e Economista, Consultor de Empresa e escritor – [email protected])

NR – O artigo do economista Osíris Silva é publicado, semanalmente, às segundas-feiras no Portal Correio da Amazônia.

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