
Divulgado em entrevista coletiva na manhã de ontem, a declaração final confirma a saída dos americanos do Acordo de Paris, que luta contra o aquecimento global, e o isolamento do país nessa questão: todos os outros integrantes do encontro consideram este acordo internacional “irreversível”.

A chanceler federal alemã, Angela Merkel, ansiosa por mostrar suas habilidades como mediadora dois meses antes da eleição na Alemanha, afirmou sem rodeios que foi muito difícil obter um consenso sobre o assunto e, no final, quebrando a tradição do G20, foi incluído um parágrafo separado para destacar a posição do presidente americano, Donald Trump, que exigia menção a combustíveis fósseis no texto.
A chanceler disse que a declaração deixa absolutamente claro que os 19 líderes mundiais reunidos em Hamburgo não compartilham da posição dos EUA, que classificaram como “lamentável”.
— Está muito claro que não conseguimos chegar a um consenso, mas as diferenças não foram escondidas. Alteramos a declaração, que deixa muito clara a diferença entre o que os Estados Unidos querem e o que os outros países querem — disse Merkel.
COREIA DO NORTE EM DEBATE
Em contrapartida, Washington apresentou uma linha contenciosa, dizendo que o país “se esforçaria para trabalhar em estreita colaboração com outros países para ajudá-los a acessar e usar combustíveis fósseis de forma mais limpa e eficiente”, na contramão do objetivo de uma economia global menos focada em carbono defendido pela comunidade internacional. Na prática, o parágrafo extra representa a possibilidade para os EUA continuarem comercializando gás de xisto.
Apesar dos obstáculos, Merkel conquistou seu objetivo primário na reunião em Hamburgo, convencendo os demais líderes a apoiarem um comunicado único com promessas sobre comércio, finanças, energia e África. O presidente francês, Emmanuel Macron, avaliou que a reunião permitiu preservar “equilíbrios indispensáveis” sobre clima e comércio. Ele anunciou ainda a organização de uma cúpula sobre o clima em 12 de dezembro, e disse que vai continuar pressionando Trump.
— Nosso mundo nunca esteve tão dividido — lamentou.
Para o presidente russo Vladimir Putin, o G20 encontrou um “meio-termo ideal”:
— Um dos assuntos mais importantes foi o das mudanças climáticas. E, a este respeito, (Merkel) conseguiu encontrar um meio-termo, (…) onde todos os países constataram que os Estados Unidos se retiraram do acordo (de Paris), mas que o trabalho vai continuar.
Tensões entre Washington e Pequim sobre a Coreia do Norte também estiveram presentes no G20. A escalada da tensão na Península Coreana foi um ponto crucial debatido na cúpula, diante do teste militar com um míssil balístico intercontinental feito pelo regime de Kim Jong-un na semana passada. Em reunião com aliados asiáticos, Trump classificou o governo norte-coreano como “um problema e uma ameaça”, na tentativa de encontrar um consenso sobre os próximos passos a serem adotados.
Os EUA têm pressionado a China a usar sua influência e fazer com que a Coreia do Norte abandone o desenvolvimento de seu programa nuclear, o que Kim já anunciou que não fará. Coreia do Sul, Japão e EUA pediram a aprovação rápida de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU e mais sanções ao governo norte-coreano.
Por sua vez, o presidente chinês, Xi Jinping, disse a Trump que a China está disposta a aderir à resolução da questão nuclear norte-coreana por meio de negociações, informou a agência de notícias estatal Xinhua. Ele defendeu esforços intensificados para promover mais diálogo enquanto se formulam “respostas necessárias” à Coreia do Norte.
PUTIN: TRUMP DA TV E O REAL
Apesar dos assuntos sensíveis abordados, Trump afirmou ontem que seu primeiro encontro ao vivo com Putin foi “formidável”. Na sexta-feira, os dois realizaram uma esperada reunião na qual trataram, entre outras questões, das alegadas interferências russas na campanha eleitoral dos EUA, que resultou na eleição de Trump. O presidente russo disse que o mandatário americano ficou satisfeito com suas garantias de que a Rússia não teria interferido nas eleições.
— (Trump) fez muitas perguntas sobre esse assunto. Eu, na medida do possível, as respondi. Me parece que ele concordou com elas (as respostas). Mas, na verdade, é melhor perguntar a ele — desconversou Putin, que também falou de aspectos pessoais do republicano: — O Trump da TV é muito diferente da pessoa na realidade.
A respeito de questões comerciais, outro ponto delicado na cúpula, os líderes concordaram que iriam combater o protecionismo. Desde o início de sua gestão, Trump preocupava seus parceiros com pressões protecionistas, além de ameaças de taxação à China e à Europa. No entanto, Washington conseguiu que os outros 19 países aceitassem reconhecer, na declaração final, o direito das nações de usar “instrumentos de defesa comercial antidumping”.(G1/O Globo)