
Encontrado na região amazônica, o piquiá (Caryocar villosum), que na língua tupi, significa “fruto com espinhos” (py, espinho e ki, fruto), é um fruto de marrom-acinzentada, espessa e carnuda, com quatro bagos em forma de rim, composto de uma polpa amarela, aderente a um caroço, muito duro, que contém uma amêndoa comestível e bastante apreciada. O piquiá só pode ser consumido depois de cozido, mas algumas pessoas costumam come-lo também assado. No campo acadêmico, o fruto é utilizado como objeto de estudo científico por cientistas junior, do projeto “Extração do óleo do piquiá para a fabricação do sabão artesanal”, desenvolvido na Escola Estadual Edson Melo, no município de Uarini, distante 565km de Manaus.
O projeto que faz parte do Programa Ciência na Escola (PCE), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), é coordenado pela professora Ana Cristina Gomes da Silva, graduada em biologia e química. De acordo com ela, a escolha pelo piquiá foi justamente para torna-lo mais conhecido e para dar um uso adequado à quantidade de óleo que o fruto apresenta. “O piquiá é um fruto saboroso, porém ainda é pouco conhecido em Uarini, além de poder utilizar sua oleosidade para a produção do sabão ‘artesanal’ na escola, pretendemos tornar a fruta mais valorizada pela comunidade e evitar o desperdício que sempre ocorre”, comentou.
Pelo PCE, já passaram inúmeros outros projetos que reutilizam o óleo para a produção de sabão e/ou sabonete, mas igual ao da professora Ana Cristina, que usa o óleo de uma fruta e não de frituras ou gordura, é o primeiro. E, justamente pelo fato de ser o pioneiro nessa linha de pesquisa, o projeto planeja deixar um legado para que possa ser estudado durante os anos seguintes. “Essa é a primeira parte do nosso projeto, onde pretendemos ensinar como se faz o sabão e ganhar experiência para nos próximos anos, possamos trabalhar na produção de sabonetes e até quem sabe investir no sabonete líquido extraído do piquiá, vai que a Natura se interessa”, disse Ana Cristina sorrindo.
Para a professora Eunice Cezário da Silva, apoio técnico do projeto, a experiência está sendo uma oportunidade de obter novos conhecimentos. “Sou professora de filosofia e não entendia nada de química. Trabalhar na prática ajuda a compreender melhor a teoria e muda os conceitos que tínhamos em relação à disciplina”. Já para a estudante Jokelen Rodrigues, participar do projeto é um desafio inovador. “É tudo muito novo e diferente, estou aprendendo bastante e essa experiência de atuar como cientista junior vamos levar para a vida toda. Percebemos que outros colegas já estão interessados e muitos já querem fazer parte também”, declarou a cientista junior.
Passo a passo do processo
O grupo se encontra uma hora por dia, três vezes por semana e, antes de, literalmente, começar a botar a mão na massa, fazem o estudo teórico das técnicas e os tipos de extração. Como a escola não possui um local apropriado (um laboratório de química por exemplo), a professora e os cientistas jr tiveram que improvisar uma sala onde pudessem fazer suas experiências de maneira segura, mantendo tudo anotado e registrado corretamente. “Esse é um processo simples, mas mesmo assim não pode ser feito em casa, pois trabalhamos com alguns produtos como o hidróxido de sódio (mais conhecido como soda caustica) que é uma base forte e não pode ser manuseado de qualquer maneira”, alerta a coordenadora.
Segundo Cristina, o processo de fabricação de sabão leva geralmente em torno de cinco dias, desde a extração do óleo até a finalização. “Vamos usar maceração (que consiste em amassar ou esmagar uma substância até extrair algo) uma técnica mais simples para retirar o óleo. Depois vamos armazena-los em potes descartáveis fotossintetizantes para não alterar a composição devido a luz. Guardamos por 24h e misturamos com a soda caustica e o álcool. Esperamos cerca de 20 minutos e despejamos nas fôrmas e depois de alguns dias, quando estiver totalmente rígido, nós cortamos o sabão em forma de barra”, explica.
Outras características do Piquiá
O piquiá tem forma esférica, ligeiramente achatado nos pólos, e seu tamanho regula o de uma laranja graúda. A casca, de cor marrom-acinzentada, é espessa e carnuda, com quatro bagos em forma de rim, composta de polpa amarela de 3 a 10 mm de espessura, aderente a um caroço lenhoso, muito duro, que contém uma amêndoa comestível e bastante apreciada. O fruto do piquiá, é originado da árvore de mesmo nome, cujo tronco atinge alturas consideráveis, podendo atingir mais de 30 metros e, por conta do seu elevado valor comercial, quase foi extinta da Amazônia.