
O abnegado empreendedor no ramo literário, senhor Luiz Carlos Carvalho, em 1986 escreveu o livro RUAS DE MANAUS – A História do Amazonas Contada nas Ruas de Manaus. Muitos anos mais tarde, o Dr. Expedito Teodoro escreveria outro com o mesmo título, dando crédito ao autor do primeiro livro. Para quem costuma esquecer a evolução da história, em 1986 não havia internet, nem sites de busca. O senhor Luiz Carlos Carvalho garimpou por bibliotecas públicas e privadas além de inúmeras entrevistas até concluir o livro. Isso tudo sem receber ajuda financeira de ninguém, nem procurar patrocinador. A bem da verdade, o projeto começou muito antes do ano em que o livro foi concluído e impresso por ele mesmo na BK Editora, a primeira gráfica rápida de Manaus, da qual é proprietário até hoje.
Os manauaras, sempre tão solícitos e prestativos para com os turistas estão com um problema: Não conhecem o nome novo das ruas e, no GPS dos turistas, o antigo não consta. Confesso a vocês que não aprendi a usar o nome dado há mais de dez anos a algumas ruas, como a Belém, Recife, Paraíba e outras. Uma pessoa que está visitando Manaus hospedou-se na casa de amigos na rua Julio Cortazar, do Parque Dez de Novembro. Ora, quase todos sabem que as ruas do Parque Dez, são numeradas e as casas seguem uma numeração que não inicia na rua. Assim, na rua 1 existe a casa de número 1 e na rua 22 há a casa 664. A ordem crescente foi concebida para facilitar a vida dos cidadãos. A troca de nomes, além de não ajudar a ninguém, anulou o critério planejado há 80 anos.
Os nomes das ruas que hoje substituem os números não parecem obedecer critérios palpáveis. A não ser as conhecidas homenagens a políticos, seus parentes e aderentes, o critério de escolha dos demais é uma incógnita. A exceção fica para os conjuntos Kyssia e Deborah que receberam os nomes de duas filhas do proprietário da construtora que realizou o projeto. As duas meninas foram “imortalizadas” ainda na primeira infância. O Parque Dez que completa 78 anos no mês de novembro, não precisaria importar nomes da Argentina – Julio Cortazar é um deles – para nominar suas ruas uma vez que já forneceu ilustres figuras para a história de Manaus. O mesmo acontece com o Japiim e outros bairros.
A simples troca de nome não ajudará os habitantes que têm suas casas lá, nem aos humanos ou não que as ocupam para as mais diversas finalidades. Contudo, uma justa homenagem a uma pessoa conhecida dos moradores, poderia despertar a cidadania e estimular aos habitantes a mantê-las em condições melhores.
Nos dias de hoje, se o senhor Luiz Carlos Carvalho resolvesse atualizar seu livro, encontraria inúmeras dificuldades, mesmo coma ajuda da internet. Para começar, teria de mudar parte do título, uma vez que os nomes das ruas homenageiam ilustres figuras de um mundo desconhecido para os manauaras. Maior trabalho ainda teria o Doutor Expedito Teodoro que enriqueceu a biografia dos personagens que davam nomes às ruas. Escrever que Cortazar nasceu na Argentina em 1914 e morou parte de sua vida em Paris onde faleceu em 1984 pode ser interessante, mas não faz com que ele tenha realizado alguma coisa pelo Amazonas ou sua capital.
Nessa linha de pensamento, seria muito melhor manter o nome de cidades, como a antiga Belém, Natal, Recife, Maceió e outras. Ou então obedecer critérios inteligíveis como o caso do conjunto Campos Elíseos cujas ruas têm os nomes das capitais dos países com representação diplomática em París, quase todas na avenida Campos Elíseos.
Homenagear pessoas que contribuíram de alguma forma para a história da cidade é muito justo e bonito. Ensinar um pouco de história através dos nomes das ruas podem ser didático, mas deveria haver alguns critérios.