A ilusão da democracia – por Flávio Lauria

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Professor Universitário

Escrever sobre a fome no Brasil, futebol e seus descalabros, novos governantes, eleição dos presidentes da Assembléia Legislativa, Câmara Federal e Senado da República, talvez ficasse enfadonho ao leitor, então resolvi escrever sobre a construção de uma nova sociedade e a democracia.


Na verdade a construção de uma nova sociedade passa por uma visão holística dos egos. O que torna o Homem uno, igual é ser cada indivíduo vário. E mais, ter consciência do mundo e autoconhecimento.

A noção mais recente do homem enquanto indivíduo, com seus direitos e possibilidades particulares, vem do liberalismo (devemos lembrar que o novo homem socialista real deu em stálins, mao-tse-tungs e que mais). A conformação necessária para o desenvolvimento do sistema capitalista necessitava da tríade igualdade, liberdade, fraternidade. Este homem liberal era tido como natural. A nova ordem classista trazia um eu empreendedor, pautado pela racionalidade, desprendido das superstições e limitações medievais.

Em termos mais realistas o homem burguês europeu era mais igual que os demais seres humanos, com as benções da Razão Absoluta. Desta forma a escravidão dos negros, normal. A submissão das mulheres e crianças em jornada de trabalho de 16 horas diárias, normal. O imperialismo dos países centrais, normal. A superexploração da mão-de-obra, normal. Esta concepção naturalista é a base do pensamento autoritário, que viceja nas mais diferentes mentes, independentemente da ideologia propugnada. O desconhecimento do outro enquanto igual é corolário da concepção natural das diferenças sociais. A Razão Absoluta determina as hierarquias e não a ação do homem. Assim se algo possuo de diferente, este torna a ser sinônimo de superior. Portanto para os afegãos subjugar as mulheres, humilhá-las e matá-las justifica-se dentro dos desígnios de Deus. Usar e abusar da ignorância e pobreza alheias para enriquecer seja no campo material ou no espiritual, é natural. Chefes autoritários que praticam o assédio sexual e moral. O político que postula a submissão dos comandados às suas neuroses e psicopatias. O pai que humilha seus filhos, ou vice-versa. Os democratas que, alçados ao poder, tornam-se ditadores – o poder não corrompe/ o poder revela.

Vamos vivendo a ilusão de democracia, de justiça num país e num mundo que cultiva a diferença socialmente construída, justificada pela Natureza; onde o enriquecimento ilícito, a corrupção, os patrimonialismos constroem iguais, a despeito das enormes diferenças sociais. Infelizmente mudanças estruturais ou institucionais – no sentido metafísico – de nada alterarão o atual quadro, por si sós. Os pós e neo-ismos nada representam em termos de um novo tempo. Vivemos uma época niilista, pragmática, insossa.

Os nossos heróis morreram todos. Talvez, todos nós tenhamos morrido. O que esperamos é que esse novo governo federal, eleito dividindo o Brasil, não nos traga a ilusão da democracia, e que os novos governantes, tenham em mente que nossos filhos e netos dependem de um país livre e democrata, sem corrupção.

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