A ousadia do eleitorado acabou? – por Carlos Santiago

Carlos Santiago é Sociólogo, Analista Político e Advogado - Foto: Correio da Amazônia

As pesquisas eleitorais nacionais que foram divulgadas até o momento, indicam que a maioria do eleitorado brasileiro não está com ousadia para mudança, não quer repetir o que aconteceu nas eleições gerais de 2018 e em outros momentos da história política do país, quando as crises políticas e econômicas influenciaram nas decisões dos eleitores e nos resultados das eleições.


Nas eleições municipais de 2016, com o cenário de impeachment presidencial e o país mergulhado numa crise econômica e ética, a maioria do eleitorado apostou em novos nomes para as administrações dos municípios. João Doria foi eleito em São Paulo; Marcelo Crivela, para a prefeitura do Rio de janeiro, e Alexandre Kalil venceu em Belo Horizonte, por exemplo. Dos prefeitos que disputaram a reeleição, apenas 48% obtiveram êxitos, o menor índice da história.

Em 2018, com o Brasil tomado por escândalos de corrupção e há oito anos sem crescimento econômico, o discurso da mudança política, do antissistema, da busca do novo no destino do parlamento e do Poder Executivo e da narrativa contra os caciques da política, a maioria dos votantes escolheu o atual presidente que não detinha qualquer experiência de administração pública, além das eleições dos governadores do Rio de janeiro, de Minas Gerais e de outros estados, inclusive do Amazonas.

Dentro de uma reflexão mais ampla, esses momentos de ousadia do eleitor já haviam acontecido bem antes de 2016, com a eleição de Collor de Melo para a presidência da República, com o seu discurso contra a corrupção e a crise econômica; Fernando Henrique Cardoso foi eleito com o projeto de estabilidade econômica e política do país; a primeira vitória do ex-operário Lula da Silva veio depois de uma grave crise econômica e de ética na política e, com indicadores econômicos positivos, Lula elegeu a sua sucessora.

Porém, no pleito municipal de 2020, a ousadia do eleitorado começa a desaparecer, pois a maioria dos votantes deu sinais que não queria mudanças significativas. Resultado: 64% dos prefeitos que disputaram a reeleição foram vencedores, mesmo com o país em plena crise econômica e de saúde pública, além de denúncias de corrupção, uma praga nas gestões públicas. Ademais, vários ex-prefeitos voltaram ao cargo, como os atuais prefeitos do Rio de janeiro e de Belém.

Segundo informações dos grandes institutos de pesquisa, na atual conjuntura política e econômica, há um sentimento de apostar nos atuais governantes ou em candidaturas que já possuem experiências de gestão pública e de governos, (mesmo o país passando por um enorme descrédito da política partidária e uma crise econômica de causas internas e externas), criando uma tendência forte da negação da ousadia que impactou as eleições municipais.

Então, vamos aguardar o sentimento do eleitorado nas eleições de outubro, com ousadia ou sem ousadia. Apostando em mudanças ou no continuísmo dos governantes. Mas, seja qual for a opção ideológica, o objetivo do voto deve ser sempre de buscar dias melhores.

Carlos Santiago é Sociólogo, Analista Político e Advogado.

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