Acordo de Paris, uma etapa histórica ainda por concretizar

Ministro francês Laurent Fabius, grande lider da COP 21/Foto: AFP

Após a euforia e os discursos que saudaram o acordo de Paris sobre o clima como um “passo histórico”, a parte mais difícil vem a seguir: concretizar os ambiciosos compromissos assumidos por 195 países.
Resumindo um sentimento geral, o presidente americano, Barack Obama, reconheceu no sábado à noite que “o problema não está resolvido com o Acordo de Paris”.


As divergências que foram expressas em quase duas semanas de difíceis negociações em Bourget, perto de Paris, destacaram a magnitude dos obstáculos a serem superados.

O objetivo do acordo é limitar “bem abaixo” de dois graus celsius o aumento da temperatura global em comparação com a era pré-industriais, e até mesmo, se possível, a 1,5ºC.

Uma tarefa que se anuncia difícil: o aquecimento global já atingiu quase um grau, advertiu no mês passado a Organização Meteorológica Mundial.

E mesmo se forem respeitados, os compromissos de redução de emissões de gases do efeito estufa já anunciados por quase todos os países colocam a Terra em uma trajetória de + 3ºC.

A única esperança reside no fato de as disposições do acordo incentivar os países a rever as suas promessas para cima nos próximos anos.

“Esta é a chave para garantir que as ações se tornem cada vez mais fortes, de modo a alcançar 2 graus e abaixo disso”, declarou à AFP Tasneem Essop, da organização WWF.

Segundo os cientistas, um aumento acima de dois graus teria consequências dramáticas: tempestades, secas, aumento do nível do mar, guerra pela água, migrações em massa…

Por conseguinte, o acordo prevê um mecanismo voluntário de avaliação dos compromissos dos países para conter o aquecimento global abaixo de 2 graus.

Mas de acordo com o Climate Action Tracker (CAT), que reúne quatro institutos de pesquisa, as promessas feitas pela maioria dos países são “insuficientes” e “quase todos” devem rever os seus compromissos em 2025 ou 2030.

Em 2018, dois anos antes da entrada em vigor do acordo, o primeiro passo é fazer um balanço do progresso na transição dos combustíveis fósseis (carvão, gás, petróleo) para energias renováveis (eólica, solar…).

Este balanço deve servir de base para novos compromissos de redução de emissões, chamados a substituir aqueles que entrarão em vigor com o acordo em 2020.

“Este será um momento político importante, onde os governos serão encorajados a aumentar os seus esforços”, disse Mohamed Adow, da ONG Christian Aid.

Se os compromissos não forem revisto para cima, o mundo poderia se ver preso em uma trajetória de três graus para a próxima década.

Alguns países fixaram metas para 2025, outros para 2030, uma disparidade que complica ainda mais a tarefa, de acordo Tasneem Essop.

Uma vez que o acordo entre em vigor, o impacto dos esforços empreendidos será revisto de cinco em cinco anos, com início em 2023 e, à luz dessa avaliação, os compromissos serão revistas para cima a cada cinco anos a partir de 2025.

Muitos esperavam que o acordo fosse mais exigente quanto a este ponto.

Os Estados Unidos, por exemplo, defendem que esses compromissos sejam voluntários e não vinculantes, para evitar ser obrigado a apresentar o acordo ao Congresso, hostil à sua ratificação.

Por sua vez, China, Índia e outros países em desenvolvimento, querem condicionar os seus compromissos à garantia de que vão beneficiar de bilhões de dólares em apoio financeiro para realizar a transição de suas economias de combustíveis fósseis para renováveis.

Segundo os cientistas, para cumprir o limite de 2 graus, as emissões de gases do efeito estufa devem diminuir em 40% a 70% entre 2010 e 2050 e chegar a zero em 2100.

Muitos esperam que as linhas divisórias entre os países desapareçam com o desenvolvimento de novas tecnologias de baixo carbono, mais baratas, e o surgimento de um preço global de carbono.

A energia “verde” “deve ser acessível, e este é o principal desafio” para os países em desenvolvimento, disse à AFP o negociador indiano Ajay Mathur.

Para Felipe Calderón, presidente do think tank Global Commission on the Economy and Climate, a transição para uma economia de baixo carbono já está em andamento e será incentivada pelo acordo estipulando que as emissões ligadas à queima de combustíveis fósseis devem para “o mais rapidamente possível”.

“Não há vencedores ou perdedores no Acordo de Paris. A justiça climática ganhou e todos nós trabalhamos para um futuro mais verde”, resumiu o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi.(Terra/AFP)

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