
Justiça seja feita. O prefeito Art(h)ur Neto é um artista completo. E pratica, com invejável talento, a arte de construir e de se mostrar como “super-herói”.
Para isso, consegue tirar proveito das mais óbvias e ululantes situações, o que não é coisa pra qualquer um. Por exemplo, em notícia no jornal A crítica, o talentoso alcaide vestiu seu “uniforme de prefeito” (sim, ele tem um uniforme de prefeito!), tufou o peito e “determinou que haja isenção da tarifa para as pessoas que estão sem água em suas casas”.
E ganhou duas manchetes tão óbvias quanto seu anúncio: “Arthur (assim mesmo, com agá) anuncia isenção” e “Famílias sem água não terão conta”. Pode haver algo mais espetacular?
Em consequência do acidente no Proama, milhares de moradores da Zona Leste estão sem água há dias. Ora, se estão sem água, nada deveriam pagar. Não é óbvio? Nem tanto. Aí é que entra o talento do prefeito para tirar proveito do óbvio e transformá-lo no óbvio ululante: determinou isenção pra quem não está recebendo água.

Mas sua arte não ficou por aí. Na mesma edição do jornal A crítica, ganhou quase página inteira com outra obviedade estampada de ponta a ponta: “Artur (assim mesmo, sem o agá) veta campanha dentro da prefeitura”.
Brilhante jogada! Não fosse o fato, exposto na própria matéria, de que quem veta não é o prefeito-herói, mas a Lei Federal n. 9.504 – a Lei das Eleições – e duas resoluções do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Mas nada disso é relevante. É preciso dar cara de obviedade ao óbvio, assumir o ululante e fazer brilhar a figura do herói. Claro, muito claro que, com a ajudinha do jornal e do seu “mancheteiro”, tudo ganha formato de verdade. Mesmo o primeiro herói chamando-se “Arthur com agá” e o segundo “Artur sem agá”. Dá tudo no mesmo.
O herói é um só.
*Odenildo Sena é professor universitário