Atalaia, a miséria de sempre – por Carlos Santiago

Carlos Santiago é Sociólogo, Analista Político e Advogado - Foto: Correio da Amazônia

Diz o dicionário que “atalaia é um termo de origem árabe e significa torre de observação. Designa qualquer lugar mais elevado ou ponto alto de onde se vigia. O termo também designa a pessoa que está encarregada de vigiar determinada área”. Neste caso, é sinônimo de sentinela ou vigia, como é definido por Ezequiel na Bíblia para alertar da importância do atalaia na segurança do  povo de Deus e, também, na indicação dos ensinamentos corretos das palavras divinas. E, no Amazonas, é nome de município, um pico de miséria e de descaso de todos os governos que passaram no país, independentemente de ideologias partidárias ou de crenças, movidos por ditadura militar ou por regime democrático.


Os crimes bárbaros cometidos contra o jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira expuseram não somente o lado mais primitivo e de ganância do homem, mas também, contradições sociais, econômicas e políticas existentes em Atalaia, que permanecerão depois dos velórios das vítimas e das condenações dos assassinos, e bem longe das coberturas jornalísticas.

No município de Atalaia do Norte, 80% da população vive na extrema pobreza; apenas 5% mora em casa de alvenaria; somente 32% das moradias possuem algum tipo de água encanada; o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IDH – M, que mede a qualidade da educação, da saúde e da economia, é muito baixo, um dos piores do mundo; o município não tem sustentação econômica e sobrevive de repasses de verbas da União e do Estado do Amazonas.

Não é um município novo, há 67 anos, Atalaia do Norte existe em condição de miséria e sob a força da velha política. Os políticos antigos foram e os atuais são aliados de todos os governos desde à época de Getúlio Vargas até o governo Bolsonaro. Porém, as características são praticamente as mesmas.

Numa região de riquezas naturais, de relações entre países, de diversidades culturais e de encontro de povos, o sangue dos indígenas e dos caboclos alimentam as ganâncias de traficantes capitalistas que não se importam com a origem de suas riquezas.

No Brasil, há um falso debate sobre a falta de recursos financeiros para investimentos e para a defesa do território e dos povos da Amazônia. O país não é pobre.  É um dos dez países mais ricos do mundo capitalista, o Congresso Nacional destina bilhões de reais para emendas secretas de parlamentares, bilhões de reais são retirados dos cofres públicos para bancar partidos políticos e o Governo Federal paga bilhões de dívida pública que nunca foi auditada. Há muita corrupção! Bilhões são desviados ou são sonegados.  Sem corrupção o país não precisa de dinheiro externo para tornar a Amazônia brasileira um lugar bem melhor pra viver, com equilíbrio ecológico e sem miséria.

Os povos de Atalaia e da região do Vale do Javari merecem cidadania, querem respeito. Até porque cidades e lugares com as condições de misérias semelhantes a do município de Atalaia existem em todas as regiões do Brasil e nas periferias dos grandes centros urbanos.

Em 2022, teremos novas eleições, vivemos um clima pré-eleitoral. Os embates ainda estão no campo das acusações para saber quais os governos mataram mais ativistas ambientais? Ou quais gestores são responsáveis pela pobreza? As acusações são muitas, mas ninguém aponta soluções.

O município de Atalaia vai continuar existindo, esperando ajuda, no topo do descaso, no mapa do Brasil sem esperança. Talvez, aguardando uma nova tragédia para ser novamente lembrado.

Carlos Santiago é Sociólogo, Analista Político e Advogado.

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