
A palavra “autocuidado” foi banalizada. Virou sinônimo de spa, rotina de skincare ou post no Instagram com frases motivacionais. Mas a verdade é que auto cuidar-se vai muito além do estético ou do simbólico.
Autocuidado é prevenção. É gestão de riscos psicossociais. É estratégia de saúde — física, emocional e até organizacional.
E o mais importante: não é egoísmo. É responsabilidade.
O que, de fato, é autocuidado?
Na psicologia, autocuidado é definido como o conjunto de práticas conscientes que preservam o bem-estar, reduzem o estresse e aumentam a capacidade de enfrentamento diante das adversidades.
Ou seja, ele é construído no cotidiano — e não em momentos isolados. É feito de decisões simples, mas consistentes.
Exemplos reais de autocuidado:
Dizer “não” quando seu limite foi atingido
Pedir ajuda sem se sentir fraco por isso
Fazer pausas verdadeiras ao longo do dia
Dormir bem — e priorizar o sono como prioridade, não luxo
Evitar ambientes que drenam sua energia emocional
Colocar seus exames em dia
Manter rituais que te reconectam com o que importa
Autocuidado e prevenção: a conexão direta com os riscos psicossociais
Ambientes exigentes, relações instáveis, excesso de responsabilidade emocional — tudo isso afeta a saúde mental. E o autocuidado surge como uma das únicas ferramentas sob o nosso controle direto.
Se a empresa ainda não tem ações estruturadas, se a família ainda exige mais do que oferece suporte, se o mundo ainda normaliza a exaustão… o autocuidado é a forma de romper esse ciclo internamente.
E atenção: isso vale para todos, mas é especialmente urgente para mulheres, que frequentemente ocupam posições de cuidado com o outro sem receber o mesmo em troca.
A neurociência confirma
Estudos mostram que práticas consistentes de autocuidado:
Regulam o cortisol, reduzindo estresse crônico
Melhoram funções cognitivas como atenção, memória e foco
Aumentam a produção de serotonina e dopamina (neurotransmissores ligados ao prazer e à motivação)
Diminuem riscos de transtornos como depressão e burnout
No consultório, vejo a diferença
Mulheres e homens que priorizam pequenos rituais de cuidado pessoal apresentam maior resiliência emocional, fazem escolhas mais alinhadas com seus valores e têm menos dificuldade em dizer “basta” quando necessário.
Não se trata de um manual perfeito, mas de consistência com gentileza. É sobre respeitar seus limites, mas também sobre conhecer seus recursos internos.
E nas organizações?
Incentivar o autocuidado nas empresas não significa transferir responsabilidade para o colaborador, mas sim criar ambientes que não exijam sacrifícios pessoais para manter a saúde emocional.
Ambientes saudáveis:
Respeitam pausas e horários
Não glamorizam a hiperdisponibilidade
Promovem ações de saúde física e mental como rotina, não exceção
Encorajam líderes a serem modelos de equilíbrio — não de exaustão
Reflexão final:
O que você faz diariamente que te protege de você mesmo? O quanto da sua rotina é pensada para manter você bem — e não apenas produtivo?
Autocuidado é um ato de resistência, coragem e inteligência emocional. Que ele seja parte da sua estratégia de vida — e não apenas um alívio pontual.
Luanna Cunha é Psicóloga Clínica e Organizacional