
Ao fim de 2021, empresários de cinco indústria instaladas no Polo Industrial de Manaus (PIM), certamente, estarão soltando foguetes pela previsão fantástica de R$ 100 bilhões de lucro. Entretanto, são estas mesmas indústrias as que mais exploram a mão de obra barata e as que mais massacram os trabalhadores. Há um imenso contrate entre o alto faturamento e o que elas destinam aos seus funcionários e ao fisco.
Ao contrário dos empresários, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Amazonas (Sindmetal) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT-AM), Valdemir Santana, diz que nada tem a comemorar.

“estamos chegando o final do ano, vergonhosamente, as cinco principais empresas do PIM como a Moto Honda, Samsung, LG, Flextronics, P&G que juntas, vão abocanhar algo em torno de R$ 100 bilhões, são as que iniciam o dia servindo um péssimo café da manhã aos seus funcionários, despois de eles passarem quase 02 horas de trajeto, de madrugada, para chegar à fábrica, até a exploração da mão-de-obra barata, terceirizada, sem direito sequer a atendimento médico de qualidade”, aponta.

Valdemir qualifica a direção destas fábricas como promotores da semiescravidão no Amazonas, que obrigam trabalhadores aos movimentos repetitivos por até 10 horas/dia nas linhas de montagem, o que tem levado muitos deles para os consultórios de laudos médicos de origem suspeita e não permitem fiscalização em hipótese nenhuma, nem as que deveriam serem feitas pelas autoridades.
Moto Honda
O sindicalista destaca a Moto Honda entre as que mais exploram trabalhadores. A empresa tem o alto faturamento de R$ 20 bilhões/ano e a dois anos deixou de pagar o 13º salário integral aos seus funcionários. Ou seja, ela reduziu os cálculos do décimo a 10 meses/ano, com 20% de desconto. “Surrupiou o dinheiro dos trabalhadores para aumentar o seu lucro”, denuncia Valdemir.
A Moto Honda tem ainda algo em torno de 2.000 trabalhadores trabalhando irregularmente, recebendo salário mínimo, com mão-de-obra temporária e terceirizada, que só tem direito a café da manhã e almoço feito por restaurante terceirizado. “Essa empresa parece que ganhou a ‘imunidade da Lei’ para não ser fiscalizada pelo governo”, questiona Santana.

Samsung
Com previsão de faturamento de mais de R$ 25 bilhões este ano, a Samsung mantém no seu quadro de pessoal mais de 30% deles de forma irregular, mantém, ainda, as linhas de produção com trabalho repetitivo, sem permitir fiscalização.
“A situação é crítica dentro das cinco empresas que mais faturam no Distrito Industrial. “Todos sabemos que os capatazes destas empresas reduzem os custos da alimentação, dos transportes e contratam terceirizados, porque eles lucram com isso, ‘ganham comissão’ em cima da miséria do salário do trabalhador”, aponta.
P&G
A P&G, que está lista das que mais faturam, não parou um só dia durante a pandemia, mesmo sabendo que estava colocando a vida de pessoas em risco. Também não teve fiscalização. A empresa não foi importunada, talvez por causa da ‘imunidade da Lei’ adquirida.

A P&G tem em torno de 2.100 funcionários, onde quase 1.000 deles são terceirizados, ganhando salário mínimo, se alimentando pessimamente, sem direito aos benefícios previsto pelas Leis do Trabalho. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), apesar dos ataques sistemáticos nos três últimos anos, ainda não caiu.
Greve
Ao Sindicato resta o mecanismo da greve, que estava suspensa por causa da pandemia, mas que agora é possível recorrer a este recurso. Santana diz que os carros de som, a panfletagem já estão sendo preparados para o início das paralisações nestas fábricas, que hoje gozam de benefícios fiscais melhores que em qualquer parte do País, as mesmas que vem ‘passando o rodo’ na economia do Estado e levando bilhões de lucros para as suas matrizes, no exterior.
Valdemir deu o exemplo da Flextronics, a fábrica que serve “Pão com Mingau” na alimentação dos trabalhadores e onde o Sindicato fez uma assembleia e só não parou porque houve impedimento da justiça.
Exploração indiscriminada
Valdemir diz que o Sindicato e a CUT não vão aceitar essa exploração indiscriminada até porque o Estado criou o benefício fiscal em 2003, para que as empresas dessem salário, alimentação, transporte, saúde de qualidade para o trabalhador. A Lei não foi revogada, mas mesmo assim, resolveram precarizar a mão-de-obra no Amazonas por conta própria e ao rigor da Lei.
“Não vamos permitir que o maior Polo Industrial da América Latina, tenha o comportamento de Senzala e que o Estado do Amazonas passe vergonha diante do Brasil e do Mundo”, finalizou Valdemir Santana.