Desenvolvimento Sustentável como principal mecanismo de preservação da Amazônia

Escritor e economista Osíris Silva/Foto: Divulgação

Por Osiris Silva


A geógrafa Bertha Becker, que nos deixou em 2013, em sua extensa obra sobre a Amazônia, defende ser preciso superar a falsa dicotomia entre desenvolvimentismo e ambientalismo. O desenvolvimentismo regional, cujo auge ocorreu durante o Programa de Integração Nacional (PIN), entre 1970 e 1985, provocou intensos conflitos sociais e ambientais, gerando forte pressão internacional e nacional contra a política. Fundamental, por conseguinte, o entendimento contemporâneo de que “o desenvolvimentismo não exige a destruição da natureza e a conservação do meio ambiente não requer sua preservação total, imobilizando o crescimento econômico”, ressalta.

No ensaio “Uma história sobre Bertha Becker”, de Isabela Ribeiro Nascimento Silva, publicado na Revista Geo-paisagem (on line), Ano 10, no 20, Julho/Dezembro de 2011, Becker deixa claro que “o ambientalismo excessivamente preservacionista da década de 1990 na Amazônia esgotou-se como um modelo para a região por uma dupla razão: primeiro, porque não conseguiu barrar a expansão da agropecuária capitalizada; segundo, porque a conscientização crescente da população amazônica, que demanda melhores condições de vida, resultou na criação de mercado de trabalho e renda e, portanto, no uso do seu patrimônio natural”.

Para Nascimento Silva, “Bertha concorda com a importância estratégica do patrimônio natural do território amazônico e acha que a Amazônia tem sido continuamente/crescentemente valorizada”; porém, ela também afirma haver “um desconhecimento e uma incompreensão do valor econômico estratégico dessa natureza
amazônica para o desenvolvimento do país”, salientando que a revolução científica e tecnológica em curso trouxe novas tecnologias que permitem utilizar a natureza sem a destruição, colocando a biodiversidade na fronteira da ciência.

Becker, em sua obra, deixa claro que “a mera proteção preservacionista não pode mais atender às demandas de trabalho e renda. Isto porque, a partir da década de 60, a Amazônia mudou enormemente, não tendo mais a mesma imagem que até hoje persiste no imaginário de boa parte da população como uma floresta intocada”. Contudo, não podemos nos esquecer de que “a Zona Franca de Manaus é o quarto PIB metropolitano do Brasil, o Pará tem o minério que alimenta as fábricas de alumínio a baixo custo, a energia de Tucuruí PA é mandada para o NE e SE”, destacou.

Sem embargo, a saída pode ser a atribuição de valor econômico à floresta para que seja possível a sua conservação, tornando-a competitiva por meio do manejo sustentável de madeira, da agroindústria, mineração e serviços ambientais. A valorização econômica e comercial da bioeconomia, base de sua preservação permanente, junta-se a outra questão atual debatida pela autora, qual seja, a operacionalização dos créditos de carbono – certificados gerados por projetos que, comprovadamente através de metodologias, reduzam ou absorvam emissões de gases do efeito estufa.

No tocante à Redução de Emissões de Desmatamento e Degradação (REDD+), que visa compensações financeiras para impedir o desmatamento e as emissões de carbono, tidas como responsáveis pelo aquecimento global, Bertha Becker reitera que o mecanismo vem prejudicando seriamente a região, considerando-o “um balde de água fria”. Verdades irretorquíveis, um desafio e tanto para nossas universidades, centros de pesquisa, Suframa, Sudam, além de autoridades governamentais.

O certo é que não mais funcionam válvulas de escape, afirmativas recorrentes, muitas vezes hipócritas e irresponsáveis, sobre conservacionismo descomprometido de contrapartidas dos recursos demandados para o desenvolvimento sustentável. Sendo a exploração dos recursos da biodiversidade, o estímulo à bioeconomia, do
interesse de toda a humanidade, nada mais justo que as nações, sobretudo as desenvolvidas, participem diretamente desse esforço. Afinal, desenvolver a Amazônia é a chave para sua preservação.

Manaus, 23 de janeiro de 2023.

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