Em sua primeira manifestação pública após a decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de aprovar o uso emergencial de duas vacinas (CoronaVac e de Oxford) contra a Covid-19 no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o imunizante “é do Brasil, não é de nenhum governador não.”
O recado do presidente é direcionado ao governador de São Paulo, João Dória, que deu início à vacinação no estado no domingo (17), minutos depois da aprovação do uso emergencial pela Anvisa, antes do previsto pelo Ministério da Saúde e da distribuição das doses para outros estados.
As cerca de seis milhões de doses disponíveis no Brasil para o início da vacinação contra a Covid-19 são da CoronaVac, vacina desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac. O Instituto Butantan, ligado ao governo paulista chefiado por Doria, um dos principais adversários políticos de Bolsonaro, fechou parceria com a Sinovac e vai produzir a CoronaVac no Brasil.
Antes da aprovação pela Anvisa, Bolsonaro questionou diversas vezes a eficácia da CoronaVac devido à sua origem chinesa. Em outubro, o presidente chegou a suspender um acordo entre o Ministério da Saúde e o Butantan para a compra de 46 milhões de doses da CoronaVac. Ele também havia dito que não compraria vacina da China.
Nesta segunda, em conversa com apoiadores, o presidente afirmou que “não tem que discutir mais” sobre a vacina já que o uso emergencial foi aprovado pela Anvisa. E disse que o governo federal vai comprar mais doses se elas estiverem disponíveis no mercado.
“Pessoal, uma notícia. Apesar da vacina, apesar não, né. A Anvisa aprovou. Não tem que discutir mais. Agora, havendo disponibilidade no mercado, a gente vai comprar e vai atrás de contratos que fizemos também que era para ter chegado a vacina aqui”, disse Bolsonaro a apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada, em Brasília.
Bolsonaro emendou:
“Então, tá liberada a aplicação no Brasil. E a vacina é do Brasil, não é de nenhum governador não”, completou ele.
O pedido de uso emergencial da vacina de Oxford foi apresentado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que é ligada ao Ministério da Saúde. Esse pedido se refere a 2 milhões de doses a serem importadas do laboratório Serum, da Índia, que produz a vacina desenvolvida pela universidade do Reino Unido e pelo laboratório AstraZeneca.
Essas doses, entretanto, ainda não estão no Brasil. Na semana passada, o governo federal chegou a anunciar que enviaria um avião à Índia para trazer as doses, mas cancelou o voo depois que fracassaram as negociações com o governo indiano, que se recusa a liberar o carregamento.
Ainda não há previsão de quando as doses da vacina de Oxford devem chegar ao Brasil.
Ainda no domingo, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, já havia criticado Doria e dito que a aplicação da primeira dose pelo governo de São Paulo foi “em desacordo com a lei” por acontecer antes do previsto pelo Plano Nacional de Vacinação do Ministério da Saúde. Dória respondeu dizendo que o ministro da Saúde “deveria estar grato à Anvisa e a São Paulo” pela vacina.
Rodrigo Maia
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também comentou nesta segunda a mudança de postura do presidente Jair Bolsonaro sobre a CoronaVac. Ele lembrou que Bolsonaro dizia que o governo federal não iria comprar a vacina.
“O presidente da República disse várias vezes que não compraria a vacina chinesa, que quem manda era ele, mas na hora da verdade a coragem não é tão grande, não é isso? É corajoso até o uma parte da história”, afirmou Maia em uma coletiva de imprensa na Câmara.
Fonte: G1