E agora José? – por Isabela Abes Casaca

719px-WC-2014-Brasil.svg


O espetáculo futebolístico mundial terminou e tal qual no poema de Drummond todos se perguntam: E agora José?

É José… A copa findou, não foi como ninguém esperou, não seguiu nenhum script consagrado dos teatros, surpreendendo gregos e troianos. E agora, José?

A noite esfriou, o dia não veio, o bonde não veio, o riso não veio, não veio a utopia, e tudo acabou, e tudo fugiu, e tudo mofou, o hexa não se concretizou. E agora, José?

Seu instante de febre passou, com o coração na mão, quer abrir a porta para o passado, mas meio não há, quer regressar ao Mineirão, mas o pretérito neste caso é perfeito simples. E agora, José?

World-Cup-2014-Brasil-logoE agora, você? Você que é sem nome, que zomba dos outros, você que protesta, você que faz versos, você que ama? E agora, José?

E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, está sozinho no mundo… E agora, José?

Primeiramente, perdoem a minha ousadia de parodiar Carlos Drummond de Andrade, penso que estes trechos correspondem ao sentimento de muitos brasileiros com o jeito que a copa transcorreu.

Não sou uma pessoa muita entendida de futebol, porém desde de criança costumo acompanhar a Copa do Mundo e posso dizer que o desempenho da seleção brasileira foi um belo sacode.

Não vou me alongar enumerando os erros cometidos pela seleção ou pela comissão técnica, muitas pessoas bem mais competentes que eu já o fizeram. Assim como reconheço que muitas opiniões valiosas e mais relevantes que a minha foram emitidas no decorrer desses dias.

Porém, não posso deixar de exprimir o meu sentimento. Sinto que a derrocada do time vai muito além da fratura na vértebra do nosso Aquiles, vai muito além da carência de um líder corajoso como Heitor para nos capitanear, vai muito além da ausência de um engenhoso Ulisses para montar nossa estratégia, vai muito além de um cavalo de madeira que invadiu nossas defesas.

A derrocada tem o mesmo motivo da de muitos personagens das tragédias gregas, tem causa na vaidade de crer ilusoriamente que os deuses do Olimpo estão invariavelmente a nosso favor, independente da nossa prática e postura. Ora, os grandes heróis sabem, os deuses do Olimpo fazem a parte deles, enquanto nós aqui embaixo procuramos fazer a parte que nos é cabida.

Já dizia um provérbio árabe: Confia em Alá, mas amarra o teu camelo. Ou então, um dito popular pátrio: Deus auxilia quem cedo madruga.

Mas, longe de mim querer criticar impiedosamente os jogadores, eles fizeram o que puderam. Fora isso, nada mais são do que o nosso espelho, um reflexo de como está a nossa sociedade, o que aconteceu serve de lição para todos nós!

Após encenada a tragédia grega no estádio do Mineirão, o confronto contra a seleção alemã (que teve um desempenho e comportamento exemplar), fiquei aproximadamente duas horas atordoada, sem saber exatamente como me sentir ou agir, no momento que fui recobrando os sentidos um trecho de uma música de Jorge Ben Jor ecoou em minha cabeça: Os alquimistas estão chegando… Estão chegando os alquimistas…

Então comecei a compreender melhor o que aconteceu, da mesma forma que os alquimistas, nós temos que buscar transformar chumbo em ouro, buscar algum aprimoramento. É hora de labutarmos ainda com mais afinco a fim de nos livrarmos da vaidade, do orgulho e da excessiva preocupação com a imagem artificial.

Se nós buscarmos aprimorar nossa essência é natural que esse desenvolvimento se exteriorize, não sendo preciso esforço para aparentar aquilo que realmente já somos. Em resumo, este momento de dor é uma ótima oportunidade para realizarmos as mudanças necessárias dentro nós.

Se quisermos novamente ter chance de vitória no teatro grego da atualidade (o futebol) e na vida cotidiana precisamos aprender com essa dor e buscar mais humildade, a nos dedicarmos diariamente pelo nosso desenvolvimento. Pra onde estamos indo? Quais são os nossos objetivos? O que precisamos fazer? O que precisamos melhorar?

Você marcha, José!
José, para onde?

[author image=”http://oi59.tinypic.com/md2p28.jpg” ]Isabela Abes Casaca é graduanda em Direito e integrante do movimento Novo Ágora. Considera-se escritora amadora.[/author]

Artigo anteriorJornada tem projeto que proibe a venda de ‘cerol’, em Manaus
Próximo artigoGotze sai do banco para o estrelato do tetra da Alemanha no Brasil

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui